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sábado, 28 de março de 2009

A persistência

A persistência, a palavra tão usada para definir os brasileiros: "povo que não desiste nunca", às vezes parece mesmo ser apenas uma palavra. Na prática muitos querem sair do seu país em prol de uma vida melhor, da realização dos seus sonhos.
Aqueles que persistem nunca demonstram enfraquecimento e os que alcançam exibem que o tempo em que a pesistência parecia escorrer pelas mãos, valeu à pena. NADA NESTA VIDA MERECE O NOSSO DESESPERO! Isso sim, precisamos selecionar com o que nos preocupar? Sim, esquecemos de nos preocupar com aqueles que estão ao nosso lado, com nós mesmos!

quarta-feira, 4 de março de 2009

Quem sou eu? Quem é você? Quem somos nós no carnaval?

No carnaval não há distinção, todos têm a mesma identidade cultural: a de folião! Não importa se são advogados ou médicos durante o ano, nos dias de carnaval todos assumem uma identidade carnavalesca, caracterizada por fantasias, uniformes de blocos, todos querem aproveitar e serem reconhecidos como pertencentes a esta festa.
Não há pluralidade, mas sim singularidade, nomes são esquecidos, soteropolitanos e estrangeiros se misturam e todos se enquadram em uma identidade temporária e grupal.
Quem é você? Quem sou eu? Quem somos nós no carnaval?
Essas são perguntas que nos remetem a subjetividade dos indivíduos diante de uma festa popular de repercussão mundial que influencia na identidade de cada um. Durante sete dias milhões de pessoas assumem um outro jeito ser e no momento da despedida torcem para que chegue logo o próximo ano para esbanjarem e reassumirem um outro caráter. Segundo Bock (2003), na Grécia Antiga, na cidade de Delfos, existia o oráculo do deus Apolo, em cujo frontispício havia o lema: “Conhece-te a ti mesmo”. Conhecer a si mesmo, suas perspectivas, anseios e gostos é essencial para que o indivíduo saiba com qual grupo ele se identifica e desta forma conhecer qual a sua identidade grupal.
Esta identidade esta atrelada a gostos musicais, estilo de vida, cultura, etnia, dentre outros. Segundo o pai do método psicanalítico, Freud, a identificação é um processo psicológico pelo qual o sujeito incorpora um aspecto, uma propriedade, uma característica do outro e se transforma, total ou parcialmente, segundo o modelo desse outro. (LAPLANCHE; PONTALIS, 2008)
A identidade cultural que assumimos no carnaval e como a música influencia nesta formação é fundamental para entender que as pessoas mudam, embora continuem elas mesmas. O folião veste uma “máscara” social nesta festa que é embalada pelas melodias dos artistas. É comum nos espantarmos com aquela conhecida: “olha só, quem diria, ralando a theca no chão!”.
A música de sucesso da cantora Cláudia Leite neste carnaval: “Beijar na boca”, aborda uma pessoa infeliz, fracassada e que beijando na boca será feliz para sempre. “Eu estava numa vida de horror, com a cabeça baixa sem ninguém me dá valor, andava atrás (thururu) da minha paz (thururu) [...] Eu quero mais é beijar na bocaE ser feliz daqui pra frente... Pra sempre”.
A letra desta música como notamos é por vezes o momento que cada ser humano passa em sua vida, estar mal por ter ido mal numa prova, numa seleção de emprego, mas a solução dada pela música de beijar na boca, curtir o carnaval, faz o folião se identificar e extravasar como meio de conseguir a realização que precisa.
Percebemos que o que acontece é uma identificação provisória dos adeptos do carnaval com estas letras, assim a música contribui para a formação da identidade do folião, servindo de reforço. O que as pessoas precisam fazer para pertencer ao carnaval? Beijar na boca, beber, usar caracterizações, ser livre, fazer o que nos dias comuns “é improvável, é impossível”. Estes são os princípios desta festa, que tem a música como receita para estes fins, é ela quem dita as regras.
A música mais tocada no carnaval passado (2008) foi “Mulher Brasileira” do grupo Psirico, na qual as mulheres são enfatizadas como “toda boa” e por isso, por mais que estas não tenham o hábito de usarem shorts, maquiagem, se incorporam neste padrão e sentem-se as rainhas da festa. A sensualidade, marca do carnaval é reforçada pela música, roupas e atos das mulheres.
Outra música muito tocada também no carnaval passado foi “Vaza Canhão”, da Banda Black Style, ao contrário de mulheres brasileiras, toda bronzeada, é retratado mulheres totalmente fora dos padrões de beleza imposto pela sociedade. Alguém ouviu esta música este ano?
Não, Ivete cantou junto com Márcio Victor, a letra de “Toda Boa”, na qual ela e outras mulheres se identificam. No carnaval, a cantora Ivete Sangalo e as mulheres anônimas sentem-se rainhas da festa, as gostosas, e por isso, a música foi relembrada. A dona-de-casa, a médica, a psicóloga, a nutricionista sentem-se poderosas como a cantora.
Este ano a novidade era “beijar na boca” ao som de Claudia Leite e especular o que a cantora fez pra manter a boa forma? Ser a “Dalila” com Ivete Sangalo e ainda dançar ao ritmo de Angola através da música “Kuduro”, interpretada pelo grupo Fantasmão.
As músicas tocam e fazem quem está na pipoca, nos camarotes ou nos blocos liberar o “eu” que está preso dentro de si, é uma forma de reivindicar e de ser diferente numa semana do ano.
O folião passa por um processo de aceitação e identificação com as letras das músicas, todos nos libertamos dos estereótipos e somos a multidão que corre atrás do trio, em busca de que mesmo?
Na busca de reviver a identidade cultural de ser folião e se identificar com o que lhe faz feliz, mesmo que seja por apenas uma semana do ano, nota-se que no mês de fevereiro as pessoas sentem-se como uma represa preste a abrir as comportas, e as músicas tocadas impulsiona a libertação destas águas.