Pesquisar este blog

Páginas

domingo, 28 de junho de 2009

A cobertura da imprensa escrita de Salvador em relação aos crimes que os PMs cometem.

Por Mayane Samille, Priscila Bastos, Ricardo Follador, Vanessa Moraes e Victor Menezes
(em: 2008).
Projeto final como requisito parcial à obtenção de aprovação na disciplina de Práticas Investigativas Interdisciplinares I, do curso de Comunicação das Faculdades Jorge Amado.

Orientadora: Profª. Bárbara Conceição

1.0 INTRODUÇÃO

Diante da necessidade de entender como os jornais Correio da Bahia e A TARDE, dos dias 16/08/07, 16/01/08, 22/01/08 e 1º/02/08 enquadram as matérias que abordam os crimes que os PMs cometem, estudamos o conceito de enquadramento na visão do autor Mauro Porto.
Buscamos entender como estes policiais são tratados, vítimas ou vilões? Eles têm alguma voz nestas matérias? São procurados para expor a sua opinião?
A pesquisa será realizada na sede dos jornais através de entrevista feita com os editores dos veículos e também através da análise das matérias, já citadas, que escolhemos analisar. O objetivo desta entrevista é entender em que estes jornalistas se baseiam para e elaboração das matérias, ou seja, se há questões objetivas e/ou subjetivas.
Sendo o objeto analisado o policial que é acusado de crimes. Diante de tal situação contemporânea este objeto de estudo faz-se interessante para compreender as circunstancias atuais, os porquês dos PMs estarem sempre nas manchetes.

Justificativa

Levando em consideração a importância do assunto: como é a cobertura da imprensa escrita de Salvador em relação aos crimes que os PMs cometem, torna-se relevante explanar qual o enquadramento que os jornais analisados, Correio da Bahia e A TARDE dá a este tema.
A análise de como este assunto é tratado por ambos os jornais é de total relevância por que desta forma é possível perceber como os policiais são vistos em casos que cometem crimes, são tratados como vítimas ou vilões?
Tal temática é essencial no universo jornalístico para repensarmos que tipo de enquadramento esta sendo dado a este conteúdo. Será que a forma pela qual os jornais impressos tratam os policiais já transmite uma visão de culpabilidade, de julgamento? É fundamental refletir nestes questionamentos.

Objetivos

Objetivo Geral: Compreender como se dá a cobertura escrita de Salvador em relação aos crimes que os PMs cometem.

Objetivos Específicos:
Verificar a linguagem utilizada por ambos os jornais
Analisar as imagens que ambos utilizam
Verificar nos jornais há presença de alguma chamada sobre a matéria na capa do jornal.
Observar a existência de versões dos PMs nas matérias

Procedimentos metodológicos

O método utilizado na pesquisa será de caráter qualitativo baseado na investigação exploratória, utilizaremos procedimentos técnicos do tipo pesquisa de campo, iremos nos basear em entrevista semi estruturada como técnica de coleta de dados , fazendo uso de um gravador analógico para colher as informações, tendo as entrevistas duração de cerca de meia hora cada.
A seleção das matérias analisadas foi feita sem pressupostos quanto aos dias, utilizamos apenas como método de seleção as manchetes das matérias. A equipe fez uso de uma tabela comparativa com intuito de facilitar a análise das matérias de ambos os jornais. (apêndice b).
A entrevista será realizada na sede dos jornais: Correio e A TARDE na cidade de Salvador, com os editores que são responsáveis pela produção das matérias. Vamos procurar entender de que forma os editores estão produzindo as matérias. Será utilizado um termo de consentimento à fim de manter a integridade moral dos participantes e o sigilo.

2.0 REVISÂO DE LITERATURA (CAPÍTULO TEÓRICO)

I Capítulo


Conceito de Enquadramento na visão do autor Mauro Porto

A análise proposta de dois veículos noticiosos, os jornais Correio da Bahia e A TARDE consiste em observar o enquadramento através da linguagem utilizada, as fotos, manchetes, citações, declarações, para assim perceber diferenças e semelhanças no enquadramento, para desta forma entender como cada um emoldurou os crimes cometidos por policiais militares. Qual o tipo de enquadramento, ou seja, qual o perfil de enquadramento adotado por tais impressos, qual a intenção do jornal em usar determinado tipo de enquadramento.
Tratando deste assunto, pretendemos analisar em detalhes na visão do autor, Mauro Porto, o conceito de enquadramento, utilizando assim a sua obra sobre o assunto. Para o autor Mauro Porto, o conceito de enquadramento consiste em uma pesquisa sobre os efeitos da mídia. Apesar do paradigma “enquadramento” (framing) encontrar-se em estado embrionário, suas aplicações têm dinamizado o campo da comunicação política, oferecendo uma nova perspectiva para entender o papel da mídia.
O autor diz que o enfoque tradicional é insuficiente para o estudo da relação entre mídia e política, contribuindo para tornar invisíveis diversos aspectos importantes desta relação. As limitações do "paradigma da objetividade" têm sido cada vez mais reconhecidas e autores têm proposto conceitos como o de enquadramento como alternativa. Mauro Porto diz que os pesquisadores passaram então a examinar como a cobertura da mídia afeta tanto "sobre o que" o público pensa (o primeiro nível de agendamento) e também "como" o público pensa sobre estes temas (o segundo nível de agendamento).
Desta forma, o autor destaca que o paradigma do agenda-setting elaborado por McCombs e Shaw, que consiste em explicar as pessoas o que pensar, o que foi criticado por Porto por achar que esta teoria não considera como as diferentes formas de apresentação dos temas pela mídia podem afetar o processo de formação de preferências temáticas da audiência.
Segundo Porto, para ultrapassar essas deficiências, os próprios proponentes da teoria da agenda-setting têm recorrido ao conceito de enquadramento para se referir a um “segundo nível dos efeitos”, o como pensar, ou seja, como o público pensa sobre tais temas (os temas propostos pela mídia).
Além de constituir um paradigma alternativo para a abordagem da objetividade, o conceito de enquadramento tem contribuído também para dizimar perspectivas teóricas existentes. “Portanto, o conceito de enquadramento tem sido definido tanto como alternativa a paradigmas em declínio, como também um complemento importante para cobrir lacunas de teorias existentes” (PORTO, 2002, p.3, grifo nosso).
Tal autor deixa claro que apesar do uso do termo, conceito, de enquadramento nos estudos sobre processos de comunicação, as primeiras revisões sistemáticas da literatura sobre enquadramento sugerem que ainda existe uma falta de clareza nos diversos usos do conceito e que muito precisa ser feito para se desenvolver uma teoria abrangente e coerente.
“Ainda não existe, portanto, uma definição consensual sobre o que sejam os enquadramentos da mídia. É possível, todavia, identificar seus aspectos principais através dos estudos já realizados” (PORTO, 2002, p.4).
De acordo com Mauro Porto a utilização do conceito de enquadramento por acadêmicos brasileiros expandiu-se nas pesquisas realizadas sobre a eleição presidencial de 1998.
“Vários autores recorreram ao conceito para ressaltar como a mídia construiu um cenário favorável à reeleição de Fernando Henrique Cardoso, principalmente no que se refere à cobertura da crise econômica que o país atravessava no período eleitoral” (PORTO, 2002, p.12).
Porto frisa que além de trabalhos sociológicos, o campo da psicologia cognitiva constitui outra fonte importante do conceito de enquadramento. O autor toma como base que na psicologia, o conceito ganhou proeminência através dos estudos conduzidos por Kahneman e Tversky (1984,1986) que demonstram como mudanças na formulação de problemas podem causar variações significativas nas preferências das pessoas.
Mauro Porto analisou o experimento feito por Kahneman e Tverky em que estes pedem para os participantes imaginarem que os Estados Unidos estavam se preparando para a eclosão de uma epidemia de uma doença estranha proveniente da Ásia que deveria matar 600 pessoas.
Kahneman e Tverky pedem as pessoas para optar entre dois programas que teriam sido propostos para combater a doença. Para um grupo de pessoas, o primeiro programa é apresentado como que salva 200 pessoas, enquanto que para o outro grupo o mesmo programa é apresentado como provocando a morte de 400 pessoas.
Apesar do fato de que as alternativas são idênticas (em um universo de 600 possíveis mortes, salvar 200 pessoas ou provocar a morte de 400 é a mesma coisa) o primeiro programa foi o escolhido por 72% das pessoas do primeiro grupo e somente 22% do segundo.
Porto conclui através deste experimento que, apesar de problemas serem idênticos, as pessoas frequentemente decidem de acordo com a forma como os temas são enquadrados. Assim, escolhas envolvendo ganhos (“200 pessoas serão salvas”) tendem a rejeitar riscos, enquanto que escolhas envolvendo perdas (“400 pessoas irão morrer”) tendem a estimular as pessoas a assumir mais riscos.
Para Porto os efeitos de formulação podem ocorrer sem ninguém ter consciência do impacto do enquadramento adotado nas decisões e podem ainda ser explorados para alterar a atratividade relativa das opções. O autor chega a conclusão que enquadramentos são, portanto, importantes instrumentos de poder.

Não é possível, nem desejável, construir uma teoria abrangente ou única definição que tende dar conta de todos os aspectos tratados pelos estudos sobre os enquadramentos da mídia. Porto afirma que para esclarecer o conceito, é preciso especificar os diferentes níveis de análise e, como conseqüência, definir mais claramente os diversos tipos de enquadramento (PORTO, 2002, p.14).

Para o autor a distinção entre dois tipos fundamentais de enquadramento é essencial para evitar a confusão que tem caracterizado as aplicações do conceito. Porto distinguiu dois tipos principais de enquadramento: os enquadramentos noticiosos e os enquadramentos interpretativos. Sendo assim, para Porto:

Os enquadramentos noticiosos são padrões de apresentação, seleção e ênfase utilizados por jornalistas para organizar seus relatos. Nesta categoria, está o ‘enquadramento de interesse humano’, que focaliza a cobertura em indivíduos, ou o ‘enquadramento episódico’, com sua ênfase em eventos (PORTO, 2002, p.15).

“No plano da cobertura de eleições, por exemplo, estariam nesta categoria o “enquadramento corrida de cavalos” (horse race frame), ressaltando, respectivamente, o desempenho dos candidatos nas pesquisas e suas propostas programáticas’” (PORTO, 2001 c, p.15).

Uma característica importante dos enquadramentos noticiosos é o fato de que eles são resultados de escolhas feitas por jornalistas quanto ao formato das matérias, escolhas estas que têm como conseqüência a ênfase seletiva em determinados aspectos de uma realidade percebida.
Os enquadramentos interpretativos operam em um nível mais específico e possuem uma independência relativa em relação aos jornalistas que os relatam. Porto define assim, os enquadramentos interpretativos como padrões de interpretação que promovem uma avaliação particular de temas e/ou eventos políticos, incluindo definições de problemas, avaliações sobre causas e responsabilidades, indicação de tratamento, etc (PORTO, 2002, p.15).

Estas interpretações são promovidas por atores sociais diversos, incluindo representantes do governo, partidos políticos, movimentos sociais, sindicatos, associações profissionais, etc. Apesar de jornalistas também colaborarem com seus próprios enquadramentos interpretativos ao produzir notícias, este tipo de enquadramento tem origem geralmente em atores sociais e políticos externos à prática jornalística. Trata-se de interpretações provenientes de um contexto mais amplo que podem ser ou não incorporadas pela mídia (PORTO, 2002, p.15).


Uma diferença entre os dois tipos de enquadramento se refere, portanto, à sua fonte. Em geral, os enquadramentos noticiosos são criados por jornalistas e os interpretativos são elaborados por atores políticos e sociais. O autor frisa que se faz necessário no estudo dos enquadramentos interpretativos identificarem as avaliações apresentadas pelas fontes que são citadas pelos jornalistas.
Para Porto um primeiro passo na análise de enquadramentos é, portanto, a definição do nível em que se está trabalhando (enquadramento noticioso ou interpretativo). Isto não significa, todavia, que pesquisadores não possam trabalhar nos dois níveis simultaneamente.
O autor destaca ainda que o conceito de enquadramento permita entender o processo político como uma disputa sobre qual interpretação irá prevalecer na formação, desenvolvimento e resolução de controvérsias políticas. O conceito permite ainda ressaltar como estas controvérsias se desenvolvem não através da apresentação de “fatos” ou “informação”, mas sim através de interpretações que são utilizadas para avaliar estes eventos ou temas políticos.
Ao identificar as principais controvérsias entre enquadramentos, é importante destacar que atores sociais distintos possuem capacidades diferenciadas para influenciar os processos de enquadramento da mídia.
Para Mauro Porto, enquadramentos não se referem apenas a processos de manipulação, mas são parte de qualquer processo comunicativo, uma forma inevitável através da qual atores faz sentido de suas experiências.
O autor recomenda que o pesquisador analise não só os enquadramentos dominantes ou de grupos influentes, mas também inclua as interpretações promovidas ou de oposição, inclusive aquelas que são excluídas pela mídia. A análise deve explicitar ainda as razões que levam ao predomínio de certos enquadramentos em detrimento de outros.

Na pesquisa que realizei sobre a produção e recepção dos enquadramentos do Jornal Nacional, ressaltei, através de entrevistas com os principais editores e produtores do telejornal, os fatores que fazem com que alguns enquadramentos interpretativos predominem no noticiário. Entre estes fatores estão rotinas profissionais (escassez de tempo, acessibilidade de fontes, etc), as características da audiência e as posições políticas da própria empresa e dos jornalistas” (PORTO, 2001 b, capítulos 7 a 9, p.18).

Para Porto os estudos de enquadramento deparam-se com a debilidade de ausência de métodos sistemáticos para a análise de conteúdo da mídia. É preciso, portanto, desenvolver métodos de análise mais sistemáticos e menos subjetivos.
O autor vê como melhor solução adotar um enfoque integrado que inclua tanto uma análise de conteúdo quantitativa, quanto uma análise textual de evidência mais qualitativa. Para superar tal debilidade Porto propôs em outro trabalho uma classificação sobre a “forma” das mensagens televisivas. Uma primeira distinção desta classificação diz respeito à presença ou ausência de mais de um enquadramento nos segmentos do conteúdo da mídia.
Assim, segmentos restritos são aqueles que incluem um único enquadramento interpretativo sobre um evento ou tema político, enquanto que segmentos plurais incluem mais de um enquadramento.
Os segmentos plurais por sua vez podem ser subdivididos em ‘plurais-fechados’, onde um dos enquadramentos é privilegiado ou enfatizado, e ‘plurais abertos’, onde nenhum enquadramento é apresentado como mais válido ou verdadeiro. Sendo assim, segmentos com uma forma episódica não incluem enquadramentos interpretativos, adotando um estilo mais descritivo da reportagem” (PORTO, 2001 b, p.19).

Esta classificação da forma dos segmentos de conteúdo da mídia permite identificar como, ao mesmo tempo em que apresenta certa diversidade de enquadramentos, a mídia contribui para privilegiar determinadas interpretações hegemônicas da realidade, especialmente aquelas promovidas pelas fontes oficiais do governo.

Além disso, esta classificação permite analisar de forma mais sistemática a recepção e os efeitos dos enquadramentos da mídia. Através de experimentos controlados com moradores do Distrito Federal, demonstrei que quando notícias do Jornal Nacional adotavam uma forma restrita, com um único enquadramento interpretativo, um número maior de pessoas interpretava o evento ou tema político tratado na reportagem de acordo com este enquadramento dominante. Por outro lado, quando expostos a segmentos plurais, as pessoas têm acesso a um conjunto mais amplo de interpretações e desenvolvem entendimentos mais variados sobre a política (PORTO, 2001 b, capítulos 8 e 9, pp. 19/20).


Em sua obra o autor Mauro Porto deixa claro, por fim, que procura demonstrar a importância de um novo paradigma, baseado no conceito de enquadramento, para o campo da comunicação política.
Para ele, apesar dos diversos problemas que ainda caracterizam os estudos desta tradição, o novo enfoque teórico oferece uma sólida alternativa para paradigmas em declínio ou contribui para superar algumas das lacunas mais importantes das teorias existentes.
Na obra, Porto procura apresentar algumas sugestões preliminares para o desenvolvimento de marcos teóricos e pesquisas empíricas mais claras e sistemáticas a partir do conceito de enquadramento.
O desenvolvimento destas pesquisas torna-se ainda mais importante considerando a relação estreita entre os enquadramentos da mídia, os processos de deliberação política dos cidadãos, e a própria viabilidade de um sistema genuinamente democrático.
Através das explanações do autor podemos citar o caso de estudo que a equipe analisa com a intenção de desenvolver o conceito enquadramento. Buscando responder ao questionamento: “Como os jornais impressos de Salvador enquadram os crimes que os PMs cometem?” (os PMs podem se pronunciar, os jornais tentam justificar os crimes, destacando baixos salários? Polícias vítimas ou vilões?).
Observando as reportagens já selecionadas (seleção feita com base nas manchetes, no tipo de caso), percebemos que o tipo de enquadramento que Mauro Porto explica como noticioso se encaixa no perfil dos jornais observados até então, visto que o enquadramento noticioso é o resultado de escolhas feitas por jornalistas quanto ao formato das matérias, escolhas estas que têm como conseqüência a ênfase seletiva em determinados aspectos de uma realidade percebida.
Assim, nos casos envolvendo os PMs percebemos desde já que a polícia já é rotulada na manchete das reportagens como vilã, em alguns casos não tendo a chance de se pronunciar. Um exemplo é a matéria do Correio da Bahia (01/02/08) que traz na manchete “Casa de PM assassino incendiada por vizinhos”.
A sociedade e a mídia já têm o estereótipo de que a polícia soteropolitana não dá segurança. Desta forma os jornalistas frisam este tema em suas publicações, utilizando fotos em que as vítimas (população) aparecem em momentos dramáticos e íntimos, como em um velório, causando assim comoção a quem vê, dando a visão de que o policial é o vilão da história, muitas vezes, ou seja, com freqüência inclusive este não se pronuncia, não há a oportunidade do policial se expressar.
O jornal ATARDE, do dia 16/01/08, analisado pela equipe possui o enquadramento noticioso, de interesse humano, que foca a cobertura em indivíduos, explanado por Porto. Dentro de uma realidade percebida o jornalista opta por focar determinados aspectos, mostrando inclusive parcialidade, como percebe-se no olho da reportagem: Moradores da comunidade do Pelaporco denunciam execução de Djair Santana, 16. Polícia militar fala em “defesa”.
O uso das aspas na palavra defesa demonstra que, na visão do A TARDE, o policial tem grande chance de ser o culpado, mas também pode ter o sentido de legitima defesa.
E qual o motivo deste tipo de enquadramento? Seria o governo? Seria a intenção do jornal mostrar-se junto a população?
Como o autor explica, o segundo nível dos efeitos consiste no enquadramento, assim os pesquisadores passaram a avaliar “como o público pensa os temas”, além de continuar avaliando o primeiro nível de agendamento: “sobre o que o público pensa”.
Assim, a equipe procura avaliar o enquadramento que a mídia impressa de Salvador dá aos crimes cometidos por PMs. Desta forma analisando fotos, legendas, manchetes, uso de metáforas, citação, declarações, ou seja, a linguagem do material selecionado com intuito de perceber se há nas reportagens analisadas uma linguagem técnica, se há subjetividade, para assim identificar o enquadramento adotado e opor que, se há normas pra tal.
O material selecionado consiste nas matérias do jornal A TARDE, como: Outra família do Calabetão sofre com ameaças de PMs, PM mata jovem e ônibus é incendiado, PM é alvo de novo protesto, Casa de policial é incendiada. No período de 16/08/2007, 16/01/2008, 22/01/2008 e 1º/02/08. Matérias do jornal Correio da Bahia: Pedreiro executado no Calabetão é sepultado, Adolescente é executado por policiais militares, Parentes e amigos de adolescente morto exigem justiça, Casa de PM assassino incêndiada por vizinhos. No período de 16/08/2007, 16/01/2008, 22/01/2008 e 1º/02/08).
Como já foi citado neste capítulo o autor estudado, Mauro Porto, propõe que na análise do enquadramento defina-se o nível de enquadramento que se estudará: noticioso ou interpretativo, sendo que nós pesquisadores podemos trabalhar nos dois simultaneamente.
Assim, a equipe acredita que no tema que se propôs estudar é pertinente a utilização do tipo de enquadramento noticioso, visto que podemos nos ater a questão de ser uma escolha do jornalista quanto ao formato da matéria, escolhas estas que têm como conseqüência a ênfase seletiva em determinados aspectos de uma realidade percebida.
Observaremos assim como os jornalistas dos veículos analisados optaram por conduzir a matéria, se houve uma seleção, ou seja, explanação maior de algo em detrimento de outro, com qual intenção e por quê.

3.0 ANÁLISE DAS MATÉRIAS (PARTE EMPÍRICA)

Esta etapa do projeto investigativo consiste na explanação do que contém nas matérias analisadas (manchetes, olho, subtítulo, chapéu, fotos, declarações) dos jornais Correio da Bahia e A TARDE do mesmo período. Ao final da explanação das matérias há uma comparação entre as mesmas, possibilitando ao leitor perceber como cada veículo enquadrou o caso.

O jornal A TARDE, do dia 16/08/07, não traz o assunto na capa. Não há declarações dos PMs acusados deste caso, mas há declaração indireta dos PMs em um caso que a reportagem relembra.
A matéria tem como manchete Outra família do Calabetão sofre com ameaças de PMs. Traz no olho: Extermínio- Policiais foram denunciados por execução em Abril.Enterro de vitima do crime de anteontem foi em clima de revolta.
O lead explica que houve o sepultamento do pedreiro Rodson da Silva Rodrigues (terceira vítima de execução) que foi um momento de dor e revolta para os parentes e amigos. No mesmo período entidades de defesa dos direitos humanos iniciavam uma imensa mobilização para, além de cobrar agilidades na apuração deste caso, chamar atenção para outra família da comunidade que se encontra em situação semelhante, de vulnerabilidade – os parentes do ajudante de pedreiro Marcus Vinicius Santos Andrade, de 20 anos, morto em Abril por uma equipe da Policia Militar. Os PMs do caso Marcus Vinicius, já chegaram a ser presos, mas estão soltos, negaram culpa, dizendo que a ação foi legitima, porque “atendeu aos anseios da comunidade”.
Nota-se no lead desta matéria que o repórter lembra um caso semelhante (o caso do ajudante de pedreiro Marcus Vinicius Santos Andrade) com intuito de esclarecer ao leitor que casos como estes estão sendo constantes e precisam de atenção por parte de todos.
A primeira foto traz a perplexidade das pessoas que acompanhavam o sepultamento, tendo a imagem de uma mulher, possivelmente parente, que aponta a mão para a câmera do fotografo no momento que a foto foi feita, como um pedido de justiça.
A legenda desta foto - Comoção marcou o sepultamento de Rodson da Silva Rodrigues, morto anteontem, junto com companheira e entiado, no Calabetão.
A reportagem traz mais duas fotos: Tânia Cordeiro (Fórum de Combate a violência) e de Borges (Movimento Negro) e também a foto da mãe de Marcus Vinicius, outra vitima.
A matéria como um todo retrata a morte do pedreiro Rodson da Silva, relembrando também um outro caso. Fala da dor e revolta no sepultamento e também do pedido de proteção ao Estado, por parentes. Traz ainda um quadro Memória, relembrando o outro caso do ajudante de pedreiro Marcus Vinícius Santos Andrade, de 20 anos, morto em Abril por uma equipe da Policia Militar, também no Calabetão. Esta mesma matéria traz ainda mais dois títulos: “Dor e revolta marcam sepultamento” e “Parentes pedem proteção ao Estado”.
Declarações utilizadas na matéria de forma direta ou indireta:
“Vizinhos confirmaram, ontem, a reportagem que ações violentas de militares são freqüentes. Segundo os moradores ouvidos, não raro os PMs invadem casas e agridem quem estiver no caminho”.
“Acontecem todos os dias em Salvador. Não podemos permitir que isso continue acontecendo”. (Hamilton Borges- Movimento Negro).
“Imagine se as pessoas começarem a temer denunciar os responsáveis pelos crimes contra os parentes. Não podemos apostar na impunidade” (Tânia Cordeiro- Fórum de Combate a Violência).


O jornal Correio da Bahia, do dia 16/08/07, não traz o assunto na capa.
Traz a seguinte manchete Pedreiro executado no Calabetão é sepultado. Traz ainda o chapéu Chacina.
A matéria afirma a ocorrência da chacina cometida por quatro PMs. Existe a possibilidade da família ter tido acesso as drogas. Porém, há suspeita dos próprios PMs terem plantado as drogas.
A foto mostra a família em forte comoção em volta da vítima, no sepultamento. Esta foto permite vê um pouco da vítima que esta morta.
A legenda da foto- Rodson Rodrigues foi enterrado no Cemitério de Quinta dos Lázaros.
Declarações: “Meu irmão estava no lugar errado e na hora errada. Tudo por que sua mulher denunciou PMs”. (Robson Rodrigues, irmão da vitima).


*Comparação entre o A TARDE e Correio do dia 16/08/07: Ambos os jornais não trazem o fato na capa e mostram os PMs, até então acusados, como culpados. O jornal A TARDE estende muito mais o fato em relação ao Correio, que traz o assunto em apenas um coluna da página. O A TARDE traz o assunto em uma página inteira, recorda um outro caso, fazendo um paralelo entre os acontecimentos, diferente do Correio.
A linguagem do A TARDE é mais dramática, apelativa, sendo a do Correio mais voltada a técnica, a formalidade.Diagnosticamos tal fato, por exemplo, no termo “comoção”, e na maneira descritiva e apelativa utilizada pelo jornal A TARDE. Ambos os jornais não trazem citações dos acusados.
A manchete do A TARDE é uma alerta para a população, já que, é frisado o fato de ser mais uma vítima. A impressão que se tem é que nas entrelinhas desta manchete o editor quer dizer que casos como este estão sendo constantes, tomando proporções, um alerta mesmo ao leitor.
O Correio traz declarações dos parentes, enquanto o A TARDE traz declarações também de parentes, e além destas de pessoas responsáveis pelo Movimento Negro e também responsável pelo Fórum de Combate a Violência. Os acusados não têm “voz” em ambos os jornais.
Quanto às fotos utilizadas, o Correio traz a tristeza e o desespero dos familiares, o foco utilizado da pra vê o morto no caixão. O A TARDE traz mais de uma foto, a do sepultamento difere do outro jornal por não mostrar bem a vitima no caixão. O interessante nesta foto é a mãe da vítima que aponta para a câmera, como um pedido de justiça.
As legendas utilizadas por ambos os jornais são diretas. O ATARDE traz o termo “comoção”, chama atenção para o tipo de sentimento presente no enterro, tal fato é notavelmente enfatizado. Percebe-se o apelo desta palavra na legenda.
Como notamos ambos os jornais não trazem o assunto na capa. Segundo o editor do jornal A TARDE o motivo é: “Na primeira página há uma editoria específica, tem um cara, que é o secretário de redação, chama-se Paulo Oliveira. Ele só fecha a primeira página. A função dele é pegar todo o material do jornal: economia, política, esporte e avaliar as matérias levando em consideração aspectos comerciais como também, a manchete boa”, afirma ele.
A editora do Correio expõe a mesma opinião: “A seleção é feita pela relevância do assunto. Se a linha editorial do jornal não é voltada para a questão policial, a capa tem que exprimir isso. Ou seja, a primeira página é uma síntese da edição, você concorda? Então, como não pode mostrar todos os assuntos, prioriza como chamadas (aquele resumo com a indicação da página) apenas os principais assuntos”, explica a editora.
Tipo de enquadramento utilizado pelo A TARDE é subjetivo, mostra que o editor acolheu a causa, tanto que deu grande destaque. Assim o A TARDE utilizou enquadramento noticioso, de interesse humano, que foca a cobertura dos indivíduos, na vítima, com intuito de mostrá-las a sociedade, como se dissesse você pode ser o próximo se esta situação não mudar.
Tipo de enquadramento utilizado pelo Correio é Noticioso episódico, trata do assunto como um evento, algo corriqueiro, diário, com uma visão mais subjetiva.


O jornal A TARDE, do dia 16/01/08, fala na capa sobre a matéria
Capa- Traz o olho - Violência: Protesto em Sete Portas contra policiais militares termina com mulher baleada. A manchete diz: PM mata jovem e ônibus e incendiado.
Declaracao – “Manifestação com ônibus incendiado e um precedente perigoso”. (Carlos Costa Gomes, mestre em Segurança Publica e professor).
A chamada a respeito do assunto na capa: Fala que os moradores da comunidade da Pelaporco, em Sete Portas, incendiaram um ônibus, sendo o ato de vandalismo uma reação ao assassinato de Djair Santana de Jesus, 16 anos, morto por policiais do Batalhão de Choque da PM. Informa ainda que o comando da corporação alega que Djair trocou tiros com os policiais. Ainda no protesto a tia da vitima foi baleada nas nádegas.
Na capa há duas fotos. 1- foto do ônibus totalmente destruído pelo incêndio. Legenda: O ônibus da Expresso Vitória ficou destruído. O prejuízo, segundo a empresa, e de cerca de R$ 150 mil.
Foto 2- A mãe com a foto da vitima em suas mãos e ao lado, no mesmo quadro, a foto do ônibus incendiado. Legenda: Djane mostra a foto do filho Djair. A morte dele gerou o 1 protesto com ônibus queimado, em Salavador.
A matéria em si traz o intertitulo: Violência: Moradores da comunidade do Pelaporco denunciam execução de Djair Santana, 16. Polícia Militar fala em “defesa”.
A manchete traz: Revolta por morte de garoto. O texto da matéria fala da morte do menino Djair que desencadeou na revolta de moradores. Trata da acusação que a comunidade faz a um PM, de que este teria matado o menino Djair. A matéria é completa, abora detalahdamente o assunto através dos intertitulos: Projeto Axé, Versão da PM. A diagramaçõ do jornal traz uma foto do menino Djair, 3X4 em contraste com policias. A legenda diz: Policial entre manifestantes que protestaram pela morte do adolescente Djair Santana, atingido por tiros disparados por PMs no Pelaporco.
Ao lado da foto há um mapa que explica onde esta localizada a comunidade e um quadro que explica o nome oficial da mesma. Ainda nesta matéria há outro título: Incêndio a ônibus como protesto abre precedente na capital baiana. Trata dos protestos da população em relação a falta de segurança. E traz o intertitulo: Queixas.
Há uma entrevista pingue-pongue com a mãe do menino, Dejane Santana, com o titulo: Se fosse filho de barão era diferente.
Declarações encontradas na matéria: “Djair correu na direção de casa quando ouviu tiros”. (Testemunha).
“Assim que chegaram foram recebidos a tiros por um grupo de cinco jovens armados” (Tenente- coronel , Zelionmar Almeida).

O jornal Correio da Bahia, do dia 16/01/08, não destaca o assunto na capa.
Traz a manchete: Adolescente e executado por policiais militares. O subtítulo diz: Vitima voltava de uma partida de futebol com amigos e, segundo testemunhas, foi executado friamente.
O contexto da matéria deixa clara a hipótese, suposição de o assassinato ter sido cometido pelos PMs. A matéria tem a foto da mãe da vitima, da vitima em vida e do protesto, onde policiais militares armados estão diante dos panfletos estendidos pela comunidade.
Legenda: Inconsolável, a baba Djane de Jesus mostra o boné que o filho Djair usava ao ser morto, enquanto moradores do Alto da Esperança descem ate a rua para denunciar que o garoto foi executado por PMs. Esta legenda tem caráter informativo e serve para as três fotos.
Ainda na matéria há o intertitulo boné e Ronaldinho Gaúcho, onde a mãe explana mais sobre o filho. Na reportagem há uma pequena matéria: Delegado reitera versão dos PMs. Esta fala que o delegado Omar Andrade Leal vai apurar o caso, ouvindo testemunhas, a mãe da vitima e os policiais.
Declaração: “Era minha vida, ele pouco conheceu as malicias do mundo e morreu desta forma”. (Djane, mãe da vitima).
“Eles chegam aqui batendo em todo mundo, como se todos fossem marginais”. (Testemunhada execução de Djair, a dona de casa A.F.S).

“Como a ação da policia no local espanta a clientela, diminuiu o faturamento dos traficantes”. (Delegado Kleuber Oliveira Menezes).

*Comparação entre o A TARDE e o Correio do dia 16/01/08
O ATARDE traz o assunto na capa e faz uma matéria extensa dando voz a ambas as partes. Enquanto o Correio não traz o assunto na capa, explica bem o ocorrido, porém de forma mais abreviada, perante o outro veículo.
Ambos utilizam o enquadramento noticioso, focado no interesse humano, utilizando da vítima para alertar e sensibilizar.
É importante ressaltar que o A TARDE utilizou a matéria na capa, uma chamada, ou seja, para tal editor mereceu destaque, contrapondo com o Correio que não utilizou chamada na capa. Assim fica fácil perceber o critério subjetivo na escolha das matérias, ou seja, o fato de usar ou não na capa uma chamada de determinado assunto é um critério também muito pessoal.
A respeito das questões subjetivas e objetivas o editor do A TARDE afirma: “Claro, subjetivo sempre. E questões organizacionais é o manual que eu falei, mas a gente tem uma margem, de dependências e independências. Tem horas que eu não posso radicalizar muito que nem dá vontade de cobrir determinadas ocorrências, mas eu sei que tem que dá, porque o concorrente vai dá. Tem limitações também e essas são de ordens organizacionais. Talvez eu ache que a subjetividade qualifica, amplia e as questões organizacionais limitam e enquadram.”
Observamos que o editor do A TARDE se contradiz ao dizer que não utiliza o termo de comunidades, como Pelaporco, já que comprovamos na matéria do dia 16/01/08 (acima) que o mesmo utilizou tal termo no intertítulo desta matéria.
“Eu fiz um manual provisório para nossa área com algumas determinações, por exemplo nós não usamos a palavra “menor” para designar, não usamos invasão a comunidade, não usamos aquelas coisas como “indivíduo” ou “meliante”, “o pivete”, “o trombadinha”, “o assassino”. Nós usamos termos jurídicos, termos que a lei determina que sejam usados e nós usamos o bom senso também pra não usar palavras que aumentem a discriminação. Agora, o jornal A TARDE está em fase final do seu manual de redação, que sai esse ano ainda”, explica.

O jornal A TARDE, do dia 22/01/08, traz na capa foto e legenda sobre o caso.
Capa- A foto que esta na capa consiste em fotografias que amigos e parentes mostram em uma manifestação.
Legenda: Amigos e parentes mostram fotos de Alexandre durante a manifestação.
A matéria traz a manchete: PM e alvo de novo protesto; e o Intertitulo: PM- este intertitulo imforma que o Major, Ivan Neves, reiterou a versão do “auto de resistência a prisão” e afirmou que os policiais continuam trabalhando, enquanto respondem a inquérito militar, que vai ser apurado pelo próprio major.
Olho da matéria – Violência: Menos de uma semana após ato nas Sete Portas pela morte de jovem, militares são acusados de outro assassinato.
A matéria fala da morte do motoboy e traz a versão dos policiais envolvidos e do delegado.
Declarações diretas e indiretas: “Os PMs alegam que atenderam ao chamado de uma pessoa que dizia estar sendo atacada em um caixa eletrônico na Estação Pirajá”.
“Os PMs chegaram por volta das 2 horas. Apresentaram um revolver 38, com dois cartuchos deflagrados, alegando troca de tiros. Isso não impede que apuremos mais o fato”. (Delegado Nelson de Almeida Gomes).
“Meu filho foi baleado as 21 horas e eles só chegaram a HGE as 23h45, com ele morto”. (Mãe da vitima).
Na matéria há uma foto de manifestantes em protesto. Traz o titulo: Ministério Publico apura mortes, que vai tratar de outros casos também. E há também im boxe: Vitimas- fala dos três jovens que perderam a vida em ações militares. (o caso analisado anteriormente, do menino Djair, e citado).
Legenda da foto da matéria: Manifestantes cobram punição a militares que mataram Alexandre Macedo, 17, ultimo sábado em Pirajá.

O jornal Correio da Bahia, do dia 22/01/08, traz na capa uma chamada breve do assunto com uma foto.
Capa- Amigos de jovem morto pela PM exigem justiça. O pequeno texto da capa informa que familiares e amigos do adolescente Alexandre Macedo Fraga, 17 anos, morto por policiais militares, fizeram uma manifestação em prol da vitima. O protesto contou com a participação de 50 motociclistas, inclusive motoboys.
Foto- Manifestantes segurando uma faixa do sindicato dos motociclistas da Bahia.
Legenda: A manifestação durou cerca de duas horas e congestionou o transito de São Caetano e Pau da Lima.
A reportagem traz a manchete: Parentes e amigos de adolescente morto exigem justiça.
Subtítulo: Passeata em protesto a execução de Alexandre durou cerca de duas horas e se encerrou na porta da 10 DP.
A matéria confronta a versão das vitimas com a dos familiares. PMs dizem que a vitima teria atirado primeiro.
Intertitulos: Caminhada e Buzinaço.
As matéria traz três fotos, uma da manifetaçao, outra dos manifestantes em frente a 10 CP e a mãe da vitima chorando.
Legenda:Manifestação parou o trafego de veículos em vários bairros da cidade, com a participação de motociclistas. Nadjane Macedo, mãe da vitima, seguiu a frente do cortejo.
Ainda na matéria mais tres títulos que desenvolvem melhor o caso:
1-Socorro demorou duas horas (A mãe, a tia da vitima e o sindicalistas Baltazar e Moises Santos formam a comissão que foi recebida pelo delegado Nelson Almeida). Foto da comissão na delegacia com o delegado. Legenda: Comissão exigiu esclarecimentos de delegado Nelson Almeida.
2-Acusados alegam que foram atacados- Os acusados soldado Idelson de Jesus e o tenente Adaes em depoimento informaram que os motoboys disparam tiros contra eles.
3- PMs continuam trabalhando –E frizado que os PMs continuam trabalhando.
Declaraçoes: “Meu filho não conhecia arma, era um rapaz pacato, que tinha inclusive horário para entrar em casa”. (Nadjane Souza Macedo, mãe da vitima).
“Já esta na hora de a policia e a população deixarem de ver os motociclistas como bandidos. Na verdade, nos somos vitimas, por que os bandidos tomam nossas motos de assalto para praticar crimes”. (Presidente do Sindicato dos Motociclistas da Bahia, Henrique Balatazar da Silveira).


*Comparação entre o A TARDE e Correio do dia 22/01/08 - Ambos os jornais trazem o caso na capa, sendo que o Correio da mais destaque trazendo já na capa uma chamada com um a foto que ocupa um espaço significativo.
O Correio discorre muito mais sobre o fato em sua reportagem de uma pagina, enquanto o A tarde utiliza apenas meia pagina. Os acusados não tem voz nas matérias dos veículos, porem e destacado em ambas que continuam a trabalhar.

O jornal A Tarde do dia, 1/02/08, não da destaque a noticia na capa.
A matéria traz a manchete: Casa de policial e incendiada.
Olho: CABO LUCAS
Intertitulo: Embriagado
A matéria trata da casa do CABO LUCAS que foi incendiada, como explica este trecho: “As ameaças de retaliação por conta do assassinato de Samanta Alves Pereira Baldoino, 4 anos, foram cumpridas, quando foi ateado fogo a moveis, eletrodomésticos e outros pertences do sargento PM reformado Pedro Carlos Lucas da Silva, 54, acusado do crime que ainda se encontra foragido”.
Declarações: “Já alugamos outra casa, em Pero Vaz, pois já não há mais como ficar aqui” (Montador de estandes de 34 anos).

O jornal Correio da Bahia do, dia 1/02/08, não traz o assunto na capa.
Traz o chapéu: Caso Samanta. A matéria traz a manchete: Casa de PM assassinato incendiada por vizinhos. A matéria expõe abertamente que o assassinato foi cometido pelo PM Cabo Lucas. Traz a foto da casa depois do incêndio.
Legenda- Abandonada desde Domingo, a casa de Cabo Lucas quase foi destruída pelo fogo.
Declarações: “Nos não podemos pagar pelos outros. Ficamos chocados com o que aconteceu, mas com vandalismo não vai resolver nada”. (Montador J.L.G, 34, que passara a residir no Pero Vaz).

O jornal Correio da Bahia, do dia 22/01/08, traz na capa uma chamada breve do assunto com uma foto.
Capa- Amigos de jovem morto pela PM exigem justiça. O pequeno texto da capa informa que familiares e amigos do adolescente Alexandre Macedo Fraga, 17 anos, morto por policiais militares, fizeram uma manifestação em prol da vitima. O protesto contou com a participação de 50 motociclistas, inclusive motoboys.
Foto- Manifestantes segurando uma faixa do sindicato dos motociclistas da Bahia.
Legenda: A manifestação durou cerca de duas horas e congestionou o transito de São Caetano e Pau da Lima.
A reportagem traz a manchete: Parentes e amigos de adolescente morto exigem justiça.
Subtítulo: Passeata em protesto a execução de Alexandre durou cerca de duas horas e se encerrou na porta da 10 DP.
A matéria confronta a versão das vítimas com a dos familiares. PMs dizem que a vítima teria atirado primeiro.
Intertítulos: Caminhada e Buzinaço.
As matéria traz três fotos, uma da manifetação, outra dos manifestantes em frente a 10 CP e a mãe da vítima chorando.
Legenda:Manifestação parou o tráfego de veículos em vários bairros da cidade, com a participação de motociclistas. Nadjane Macedo, mãe da vitima, seguiu a frente do cortejo.
Ainda na matéria há mais três títulos que desenvolvem melhor o caso:
1-Socorro demorou duas horas (A mãe, a tia da vítima e o sindicalistas Baltazar e Moises Santos formam a comissão que foi recebida pelo delegado Nelson Almeida). Foto da comissão na delegacia com o delegado. Legenda: Comissão exigiu esclarecimentos de delegado Nelson Almeida.
2-Acusados alegam que foram atacados- Os acusados soldado Idelson de Jesus e o tenente Adaes em depoimento informaram que os motoboys disparam tiros contra eles.
3- PMs continuam trabalhando –É frisado que os PMs continuam trabalhando.
Declarações: “Meu filho não conhecia arma, era um rapaz pacato, que tinha inclusive horário para entrar em casa”. (Nadjane Souza Macedo, mãe da vitima).
“Já está na hora de a polícia e a população deixarem de ver os motociclistas como bandidos. Na verdade, nos somos vítimas, por que os bandidos tomam nossas motos de assalto para praticar crimes”. (Presidente do Sindicato dos Motociclistas da Bahia, Henrique Balatazar da Silveira).

*Comparação entre o A TARDE e Correio do dia 22/01/08 - Ambos os jornais trazem o caso na capa, sendo que o Correio dá mais destaque trazendo já na capa uma chamada com uma foto que ocupa um espaço significativo. O A TARDE traz uma foto seguida de uma legenda. A maneira como o Correio expõe o caso na capa já leva o leitor para dentro do jornal sabendo do que se trata, já o A TARDE deixa a desejar neste sentido, apenas a legenda e a foto não suprem as informações que uma chamada poderia dá à capa.
O Correio discorre muito mais sobre o fato em sua reportagem de uma página,trazendo mais detalhes do fato, inclusive o encontro dos parentes da vítima com o delegado, citações da conversa, o que possibilita ao leitor sentir-se mais próximo do caso. O A TARDE utiliza apenas meia página, sendo breve, porém explicativa. Os acusados não têm voz nas matérias dos veículos, porém é destacado em ambas que eles continuam a trabalhar.
Enquadramento noticioso com interesse humano, ambos focam na vítima. Quanto a linguagem percebemos que há linguagem policial, o que os editores explicam melhor: “A linguagem utilizada nas matérias que abordam temas policiais é a mesma usada nas demais notícias. É óbvio que existem termos característicos do jargão policial, como acontece nas editorias de economia e política, por exemplo. Não se trata, entretanto, de uma tendência, mas de uma necessidade voltada para dar mais objetividade ao texto”, fala a editora do Correio.

O jornal A Tarde do dia, 1º/02/08, não dá destaque a notícia na capa.
A matéria traz a manchete: Casa de policial é incendiada.
Olho: CABO LUCAS
Intertítulo: Embriagado
A matéria trata da casa do CABO LUCAS que foi incendiada, como explica este trecho: “As ameaças de retaliação por conta do assassinato de Samanta Alves Pereira Baldoino, 4 anos, foram cumpridas, quando foi ateado fogo a moveis, eletrodomésticos e outros pertences do sargento PM reformado Pedro Carlos Lucas da Silva, 54, acusado do crime que ainda se encontra foragido”.
Declarações: “Já alugamos outra casa, em Pero Vaz, pois já não há mais como ficar aqui” (Montador de estandes de 34 anos).


O jornal Correio da Bahia do, dia 1º/02/08, não traz o assunto na capa.
Traz o chapéu: Caso Samanta. A matéria traz a manchete: Casa de PM assassinato incendiada por vizinhos. A matéria expõe abertamente que o assassinato foi cometido pelo PM Cabo Lucas. Traz a foto da casa depois do incêndio.
Legenda- Abandonada desde domingo, a casa de Cabo Lucas quase foi destruída pelo fogo.
Declarações: “Nós não podemos pagar pelos outros. Ficamos chocados com o que aconteceu, mas com vandalismo não vai resolver nada”. (Montador J.L.G, 34, que passara a residir no Pero Vaz).


*Comparação entre o A TARDE e Correio:
Ambos utilizam meia página para explanar o assunto e ambos também não trazem o caso na capa. Nota-se que é uma matéria que é exposta pela importância, os veículos não podiam deixar de falar, porém não são tão bem trabalhadas quanto outras, tal fato é perceptível nos dois jornais.
A matéria do A TARDE chama atenção pelo fato de não traze nenhuma foto. A linguagem visual não existe.
As manchetes mostram o teor, a visão, o enquadramento que será dado ao caso na reportagem. O A TARDE apenas diz: Casa de policial é incendiada. Já o Correio traz: Casa de PM assassino incendiada por vizinhos. O termo “assassino” dá a sentença para o policial que está foragido e nem tem o direito de opinar sobre o caso. Ambos os jornais trazem declarações de vizinhos.
Tipo de enquadramento utilizado por ambos: Noticioso com caráter episódico.

4.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a elaboração deste projeto foi possível eliminar um pensamento, hipótese inicial, de que os policiais poderiam ser tratados como vítimas nas matérias, o que diagnosticamos que não, sempre são tidos como vilões.
Percebemos também que o enquadramento de uma matéria passa por valores subjetivos e objetivos, o que inclusive influência no seu destaque.

E.APÊNDICE

APÊNDICE A – Questionário aplicado aos editores dos jornais Correio da Bahia e A TARDE.

1- Qual o tipo de linguagem utilizada nas matérias e na manchete pelo jornal nestes casos de violência/ crimes? É usado metáforas? É uma linguagem técnica, policial, busca objetividade. Existem normas pré-estabelecidas para esta escolha?
2- Como é feita a escolha do intertítulo, títulos e manchetes? Hierarquização, importância, seleção?
3- Nos casos de crimes que aparecem na capa, por que o jornal os utiliza, enquanto outros casos de violência são apenas citados, ou até nem aparecem na capa. Quais os critérios de seleção?
4- Como é feita a seleção das citações? Quais citações utilizar? Há hierarquização, equilíbrio de declarações? Como favorece ou não a forma de pensar o fato?
5- O jornal tem o hábito de procurar os suspeitos ou já tidos como culpados para se pronunciarem? Como é feita esta seleção das fontes, declarações?
6- Como são feitas as seleções das fotos? Os fotógrafos já sabem que há um modelo de foto para estes casos (existe normas da equipe – filosofia de trabalho/ há algum documento)? Existe uma diretriz, ou seja, não usar não usar foto do corpo, apenas da pessoa viva?
7- Pra o editor que tipo de enquadramento o jornal dá a estes tipos de notícias?
8- O editor considera que existem princípios organizacionais e subjetivos para o enquadramento da notícia?
9- A decisão é dada por quem, de que forma?
10- Existe uma política específica para o tratamento destes temas?


APÊNDICE B – Quadro comparativo das matérias dos jornais Correio e A TARDE





JORNAL ATARDE (16/08/07)



MANCHETE


OLHO


CITAÇÃO


MATÉRIA


FOTO


LEGENDA
Outra família do Calabetão sofre com ameaças de PMs.

Extermínio – Policiais foram denunciados por execução em abril. Enterro da vítima do crime de anteontem foi em clima de revolta.

“histórias dessa natureza têm se tornado frequentes, de tal modo que já se tornou rotineiro saber da existência de mortes violentas praticadas por policiais contra jovens, negros, pobres e de periferia”.

Professora da Uneb, Tânia Cordeiro.
Retrata a morte do Pedreiro Rodson da Silva, relembrando também um outro caso.
Fala da dor e revolta no sepultamento e também do pedido de proteção feito as Estado, por parentes.
Traz ainda um quadro: memória, relembrando outro caso.


*Foto do enterro da vítima.

*Foto de Tânia Cordeiro
(Fórum de Combate a Violência)

* Foto de Borges
(Moviento Negro)
Comoção marcou o sepultamento de Rodson da Silva Rodrigues, morto anteontem, junto com companheira e enteado, no Calabetão.


JORNAL ATARDE (16/01/08)


MANCHETE


OLHO


CITAÇÃO


MATÉRIA


FOTO


LEGENDAS
Revolta por morte de garoto.
Violência: Moradores da comunidade do Pelaporco denunciam execução de Djair Santana, 16. Polícia Militar fala em “defesa”.

“Djair correu na direção de casa quando ouviu tiros”.
Testemunha
Fala da revolta de moradores da comunidade de Pelaporco, pela morte do menino Djair.
Retrata o ônibus incendiado em protesto e traz um pingue-pongue com a mãe do garoto.

Intertítulos:

*Projeto Axé

*Versão da PM.

* Foto do protesto

*Foto do ônibus incendiado.
*Policial entre manifestantes que protestaram pela morte do adolescente Djair Santana, atingidos por tiros disparados por PMs no Pelaporco.

*Ônibus incendiado durante protesto pela morte de adolescente: risco de tragédia com passageiros.

Jornal ATARDE (22/01/08)




MANCHETE


OLHO


CITAÇÃO


MATÉRIA


FOTO


LEGENDAS
PM é alvo de novo protesto.

Violência: Menos de uma semana após ato nas Sete Portas pela morte de jovem, militares são acusados de outro assassinato.


“Os PM’s chegaram por volta de 2 horas. Apresentaram um revólver 38, com dois cartuchos deflagrados, alegando troca de tiros...”
Delegado
Fala da morte do motoboy e traz a versão dos policiais envolvidos e do delegado.

Intertítulo: PM
*Manifestantes em protesto.
Manifestantes cobram punição a militares que mataram Alexandre Macedo, 17, último sábado em Pirajá.



Jornal ATARDE (1º/02/08)


MANCHETE


OLHO


CITAÇÃO


MATÉRIA


FOTO


LEGENDAS
Casa de policial é incendiada.


CABO LUCAS

“As pessoas ameaçam, por isso ninguém quer se expor.”
Anônimo
Fala da casa do CABO LUCAS que foi incendiada.
Intertítulo: Embriagado
Não tem
Não tem

Correio da Bahia - 16/01/2008
Manchete
Subtítulo
Matéria
Foto
Legenda
“Adolescente é executado por policiais militares”
“Vítima voltava de uma partida de futebol com amigos e, segundo testemunhas, foi executado friamente”.
Deixa clara a hipótese de o assassinato ter sido cometido pelos PM’s – Suposição
Percebem-se protesto, cartazes indignados; uma da mãe do garoto e uma do rosto do garoto.
Informativa servindo para as 3 fotos pequenas


Correio – 22/01/2008
Manchete
Subtítulo
Matéria
Foto
Legenda
“Amigos de jovem morto pela PM exigem justiça”.
“Passeata em protesto à execução de Alexandre durou cerca de duas horas e se encerrou na porta da 10ª DP”.
Confronta a versão dos PM’s com a dos familiares. PM’s dizem que a vítima teria atirado primeiro.
Expõe uma faixa com os dizeres: “Motoboys de luto pedem justiça”, apoiados pelo Sindicato dos Motociclistas da Bahia. A Foto em relação à posição na capa está na parte de baixo do jornal. E em uma, o rosto da mãe da vítima.
Na foto da capa, registra-se que a manifestação parou o trânsito por 2 horas; nas fotos da matéria, novamente informa sobre o tráfego e mostra a mãe da vítima.

Correio – 01/02/2008 – Sem destaque da notícia e sem foto na capa

Manchete
Subtítulo
Matéria
Foto
Legenda
“Casa de PM assassino incendiada por vizinhos”.
Não tem.

Antes do título tem um chapéu, “Caso Samanta”.
Expõe abertamente que o assassinato foi cometido pelo PM “Cabo Lucas”.
Uma da casa incendiada.
Diz que a casa do Cabo foi quase destruída.



Correio – 16/08/2007 – Não tem destaque da matéria e nem foto na capa
Manchete
Subtítulo
Matéria
Foto
Legenda
“Pedreiro executado no calabetão é sepultado”.
Não tem.


Antes do título tem um chapéu, “Chacina”.
Afirma a ocorrência da chacina cometida por 4 PM’s. Existe uma possibilidade da família ter tido acesso às drogas. Porém, há a suspeita dos próprios PM’s terem “plantado” as drogas.
Aproximada do caixão, dando para ver partes do corpo da vítima.
“Robson Rodrigues foi enterrado no Cemitério de Quinta dos Lázaros”






















































































A fé na comunidade da Liberdade

“Eu parto do princípio que vivemos numa democracia, então cada um tem que respeitar o outro...”
Por Priscila Bastos e Victor Menezes


A antiga frase passada de geração a geração: “A fé move montanhas”, simboliza bem
o bairro da Liberdade, já que a fé neste bairro move uma legião de pessoas. A Liberdade tem uma das maiores densidades populacional de Salvador. Até o ano de 1990 (dados do censo de 91), a área possuía aproximadamente 130.000 moradores, algo em torno de 5% da população do município. Um bairro populoso e também povoado pela diversidade de crenças. São católicos, evangélicos e candomblecistas dividindo um mesmo espaço e convivendo em prol de um mesmo propósito: a fé.
O bairro da Liberdade possui grande concentração de população negra, a maioria de baixa renda. Atualmente o bairro é considerado uma "cidade" dentro da cidade de Salvador.
Segundo o dicionário Kougan Larousse, fé quer dizer: “confiança em alguém ou em alguma coisa, crença fervorosa”. Na Bíblia Sagrada, muitos textos nos falam sobre a fé, entre os quais destaca-se: “ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem”. Hebreus 11:1; “...mas o justo pela sua fé viverá”, Habacuque 2:4b.
Ao chegar ao bairro a agitação é constante, o comércio e a feira do Japão dão graça a essa gente batalhadora e com muita vontade de vencer. Não precisa andar muito para notar que em poucos metros a diversidade de igrejas é imensa, uma defronte à outra.
Seguindo a feira do Japão chega-se ao terreiro de candomblé Oya Omin Erê, mantido pela funcionária pública, Railda dos Santos, 57. Descendente de africanos e filha de mãe de santo, ela conta que as reuniões são feitas uma vez por mês, e com a presença de oito a dez pessoas, pois ela mesma acredita que não precisa haver muitos seguidores em uma só reunião.
O teor das orações é em busca da paz mundial ou para algum problema que esteja afligindo as pessoas presentes, desde saúde a desemprego. “Quem tem fé, dá muita importância a essas reuniões, é o momento de concentração para que tudo isso não seja em vão”, conta Railda.
Em agosto, mês em que a reportagem foi feita, é comum haver festa em homenagem ao Deus da bexiga, Omulu Obaluaiyê, e os preparativos estão sendo feitos, já que logo às segundas-feiras é servido um mingau com bolo acompanhados de uma cantoria aos orixás. Esse mingau é de Nanan, mãe de Obaluaiyê.
Voltando às orações, é prática também se oferecer um chá e na seqüência os membros presentes se abraçam trocando energias positivas com os praticantes cantando sete dias para cada orixá. É nesse momento que se canta para a cabocla do terreiro em questão.

“Eu não vejo a pessoa pela religião, vejo como ser humano”
Uma situação polêmica é o convívio com as outras religiões. “Eu parto do princípio que vivemos numa democracia, então cada um tem que respeitar o direito do outro, algumas pessoas que são contra, no dia seguinte a reunião do candomblé, fazem cultos evangélicos altos para irritar, chamando de macumbeiro”, afirma Railda. Uma postura que fere o espírito e o respeito para os candomblecistas.
Railda preza pelo respeito independente de tudo. Deixa claro seu pensamento e não se sente incomodada com o que pratica, até porque não força ninguém a nada.
O preconceito ainda impera num país de descendência negra e fica cada vez mais evidente a ignorância das pessoas a cerca da cultura negra, que se trata de uma cultura que originou inclusive muitos hábitos e costumes que vemos hoje em Salvador e em outras regiões do país.
Na pequena Igreja Católica Apostólica Independente (Diocese de Salvador/ Paróquia Santa Bárbara), é impossível não se sentir à vontade com o Dom Roberto Garrido Padim, 62, padre muito simpático e receptivo, que logo explica como se dá o trabalho da sua igreja: “A igreja é católica, mas não é católica romana, é uma igreja separada: Católica Apostólica independente, independente não quer dizer por que ela é separada De Roma, não, independente por que quando ela começou chamava-se igreja Católica Livre no Brasil. Catolicismo livre, o que quer dizer catolicismo livre?
O catolicismo autêntico, voltado para Deus, os homens e a pátria. Livre de qualquer tutela política nacional ou estrangeira, livre para agir somente em nome de Cristo e da legitima tradição apostólica, o que quer dizer isso? “Que nós não temos um governo como a igreja católica romana”, explica.
Na Igreja Casa da Benção, templo evangélico, o pastor Paulo César que congrega há 28 anos na igreja conta que nos cultos a freqüência é de uma média de 800 pessoas nos três horários.

Fé – “A fé é básica em qualquer igreja, eu só não defendo o fundamentalismo, a igreja achar que a igreja que salva igreja não salva ninguém. O que me salva a pratica do bem, a minha fé”, conta dom Roberto.
A auxiliar administrativo, Cleudes dos Santos Reis, 41, chega a igreja Evangélica Casa da benção quando o culto já havia acabado e pede ao pastor para orar por ela, é o dia do seu aniversário e ela quer comemorar com esta benção. “A importância de Deus sobre nossas vidas e é bom para estar em comunhão com os irmãos então eu vim por que hoje é um dia muito especial que é meu aniversário, pra estar em comunhão, já que não pude chegar no horário, mas eu sei que a benção do senhor permanece e é importante que o homem de Deus esteja orando pela gente”, explica.
Diante de tal apuração nota-se que independente da crença a fé une as diferenças religiosas em prol de um sentimento que é o de acreditar que com o auxilio da fé conseguirá alcançar as suas metas.







Shopping Liberdade: suas belezas e contradições

por Priscila Bastos

O Shopping Liberdade atrai pela sua estrutura arquitetônica. Não há como passar de ônibus ou a pé e não sentir vontade de entrar. A arquitetura chamativa, uma fachada com o nome do shopping, as plantas, as entradas: pela esquerda, direita e pelo meio, são atributos que despertam curiosidade de todos que por ali passam. Embora seja tão atraente aos olhos de todos, a situação não tem sido muito favorável. Segundo declarações de comerciantes, um dos motivos é que o retorno não tem sido o esperado, há uma baixa freqüência.
O estabelecimento possui três andares e 120 lojas, das quais 67 estão em funcionamento e 53 fechadas. Os estabelecimentos mais procurados são as lojas de telefonia, loteria, farmácia e restaurante. Com uma construção bem elaborada, deveria estar em melhores condições, certamente é o que passa pela mente das pessoas que não conhecem o shopping ao saberem que um número significativo de lojas estão fechadas.
O shopping Liberdade atravessa momentos de mudança: lojas fechadas, outras investindo em um negócio antigo e outras que chegam para arriscar. Como é o caso da loja Claro, que está no local há quase três meses. Danieli Telles Coelho, 18, e Ivo Adorno da Silva, 23 , vendedores da loja, muito simpáticos, estão descontentes com o negócio. “O shopping tem pouco movimento, pouco marketing”, declarou Danieli. Desanimada com o rumo das vendas, Danieli diz que não acredita na mudança do shopping e, sim, dos capacitados.
O gerente comercial, formado em administração, José Luiz Werneck Maria, que está no cargo há três anos, fala de maneira muito sincera, fazendo revelações inimagináveis para meros freqüentadores, que na correria não param para questionar a atual situação do estabelecimento. Apesar de não estar na administração na época da implantação, Werneck afirma com certeza que o retorno não é o esperado. Para ele, houve um erro na implantação: “Muitas lojas estão fechando porque não foi definida a classe a ser atendida”. Werneck deixa claro outra problemática para o insucesso do shopping: “O shopping de bairro é administrado por várias cabeças”. Assim como o gerente, a comerciante Ana Oliveira, 40, que possui duas propriedades no estabelecimento, atribui o insucesso do shopping ao fato da administração ter muitos operadores, muitas opiniões. Esta dificuldade ressaltada por ambos também pôde ser percebida quando o Shopping Liberdade ganhou o Top of Mind 2005, prêmio de melhor shopping de bairro. Com indignação, o gerente conta que os próprios administradores duvidaram do prêmio e que eles foram acusados de comprar o prêmio.
PúblicoOs freqüentadores do shopping também arriscam palpites sobre o shopping Liberdade, é o caso de Paloma Alves, 19, estudante de psicologia. Ela, que freqüenta os boxes de xerox, as lojas de telefonias, lanchonetes, fala que “o shopping tem uma arquitetura boa, quem passa tem vontade de entrar, mas as lojas fechadas e a imagem já instalada que vende caro faz com que as pessoas não freqüentem”. Paloma aposta na melhoria do shopping, para ela é preciso colocar lojas que atraiam mais. Com bom humor, ela brinca: “Queria que o shopping tivesse uma loja Canal Jeans, Americanas e C&A”.
Muito interessante foi encontrar um casal de São Luís do Maranhão apreciando a vista da Baía de Todos os Santos. Otávio Lousado, 31, gerente da Insinuante de São Luis e sua esposa Elaina Lousado, 22, atualmente dona de casa, estavam visitando familiares nas proximidades do shopping e resolveram conferir a vista para a Bahia de Todos os Santos, que por sinal os encantou. “Muito bonito, uma imensidão”, afirmou Elaina.
Segundo o gerente comercial do shopping, o estabelecimento não foi criado por causa da vista, o local era um campo de futebol, depois supermercado e por oportunidade foi colocado o shopping. Mas existe o plano de fazer da vista, um turismo cultural, ou seja, fazer parte do circuito cultural já existente na Liberdade, mas isto ainda não foi definido.
Comerciantes de sucesso Apesar dos conflitos que o shopping vem passando, “pouco movimento”, queixa dos comerciantes e “preço nada acessível”, na opinião dos moradores, há exemplos que se salvam diante de tanta contradição. Como a baiana do acarajé Josenice Brotas, 36, que trabalha no local desde que o shopping foi inaugurado. Ela já é consagrada por ser a única baiana a trabalhar em frente ao shopping e por fazer acarajés e abará muito gostosos! Vale a pena ir ao shopping a partir das 17h, horário em que a baiana chega, para conferir. O interessante é que Josenice trabalha na área externa do shopping. Quando perguntada porque não colocou um stand na parte interna, ela afirma que foi escolha, assim tem clientes dentro e fora do shopping.Silvana Soares, 37, uma vendedora alto-astral, também tem conseguido driblar os problemas que o shopping vem enfrentando. Silvana que está no shopping há quase três anos, tem um boxe logo na entrada do shopping, pelo lado esquerdo, onde vende doces. “Acho o comércio fraco, pra comida é fraco, mas a gente consegue se virar”, afirma e emenda: “Como em todo shopping, o fluxo era maior no começo, agora reduziu, mas já consegui fazer meus clientes. Se saísse, faria falta”.
Muito interessante é a comerciante Ana Oliveira, 40, popularmente conhecida como Xuxa. Ela tem dois boxes no shopping, um no primeiro andar, há quatro anos, e outro no térreo, há três meses, ambos de alimentos. Seus boxes possuem destaque pela variedade: bombons, salgados, doces, café, suco, de tudo tem um pouco. “O meu comércio tem sido bom, mas o shopping é fraco”, conta Ana. Ela tem sido um dos poucos comerciantes a emplacar no shopping, talvez o seu apelido esteja ajudando no sucesso.
EventosO shopping, a depender das datas comemorativas, oferece vários eventos, por exemplo nas estações do ano:na primavera costuma-se colocar floricultura. Há também desfiles, que consistem em exibir os produtos das diferentes lojas. Alguns eventos já estão definidos, como: música ao vivo todas as sextas-feiras durante duas horas e aulas de dança de salão todas as segundas, quartas e sábados, das 17h às 20h na praça de alimentação. A divulgação destes eventos é feita através do rádio, carros de som e através do jornal A tarde. Sobre tais eventos Werneck fala com saudades do Projeto “Painel da Liberdade”, que consistia em dá oportunidade a novos talentos, mas não foi a frente por problemas na administração.
ConstrangimentoA partir das 21h, já é possível observar em frente ao shopping pessoas se acomodando para passar a noite. Quem passa às 6h da manhã se assusta com uma fila grande, onde pessoas em pé aguardam senhas do SAC para retirar identidade gratuita e resolver outros problemas. Não há senhas para todos e é possível identificar o descontentamento das pessoas. É possível ouvir: “Devia ter ido no shopping Iguatemi”.
Ana Cristina, 31, que esperava para ser atendida, colava apressada com vários pedaços de durex a certidão de nascimento original do pai, resmungando muito. Ela acha que não vai conseguir novamente resolver o seu problema. Mora na Fazenda Grande e não freqüenta o shopping Liberdade. “É a segunda vez que fico nesta fila”, fala de maneira desolada.
A população de baixa renda se vê diante de um belo shopping onde de nada usufruem, apenas passam pelo constrangimento de encarar uma fila imensa para muitas vezes não conseguirem senha. Os funcionários do SAC tentam uma organização, mas bem se vê que a manhã será longa diante de tanta burocracia: senhas limite para tirar a carteira de identidade, além de outras pessoas que estão ansiosas para resolverem outros problemas.
Tal situação me remonta a citação de Werneck: “Não foi definida a classe a ser atendida”. Talvez a principal encruzilhada do shopping seja o fato de querer lidar com o público criado e não o real, não a população batalhadora da Liberdade. O shopping conta com projetos futuros como a capitação de novas lojas e equacionar público-loja, loja-público.

(outubro de 2007)

Histórias do Plano Inclinado

por Priscila Bastos

Os planos inclinados fazem parte da história da cidade e foram pensados para driblar a difícil tarefa que era subir e descer as enormes ladeiras que separam Cidade Alta e Baixa ou mesmo diminuir o tempo que se levava para dá voltas até chegar a parte baixa de Salvador. A cidade possui três planos inclinados, um deles é o da Liberdade (liga o bairro da Liberdade a Calçada), que funciona com dois bondes amarelos e grandes, que permitem ao passageiro apreciar a vista da Cidade Baixa. Nem sempre se acha um local para sentar, mesmo assim, isto não é problema, pois a duração do trajeto é de 1,67minutos/segundos, o que faz compensar o percurso, já que, de ônibus, leva-se muito mais tempo para chegar a Cidade Baixa. O Plano Inclinado da Liberdade foi inaugurado em 1981. Idealizado e inaugurado na gestão do prefeito Mário Kertsz, entrou na história urbana como um moderno equipamento que torna mais fácil o deslocamento de pessoas entre o populoso bairro da Liberdade e a região da Calçada. Dos três planos inclinados, ele é o que tem maior demanda de passageiros, transportando 235 mil pessoas por mês.
O funcionamento se dá de segunda a sexta-feira, das 7h à meia noite. Aos sábados, das 7h às 19h, e, aos domingos, das 7h às 18h. “O funcionamento nos finais de semana foi nesta administração, por determinação do prefeito João Henrique. O funcionamento era só até às 19h do sábado”, declara o gerente da Gerência de Equipamentos Urbanos, Marcos Guerra. Ele afirma ainda que a atual gestão tem se mostrado atenta aos problemas e vem buscando melhorias.
O Plano liga a Praça Nelson Mandela (Liberdade) à Rua Barão de Vila da Barra (Calçada) com tarifa de R$0,05. Dois bondinhos, cada um com capacidade para 36 pessoas, atendem a demanda média mensal, que é de 235.217 passageiros. Segundo informação divulgada pela Assessoria e Consultoria (Astec) no site da Superintendência de Transportes Públicos, a demanda total de janeiro a agosto deste ano foi de 2.364.213.
O Plano Inclinado é um meio de transporte que facilita a vida de muitas pessoas. É possível observar que muitas descem e sobem em alguns minutos, conseguindo resolver de maneira rápida o que precisam na Liberdade ou no Comércio. Ao chegar ao plano, o que vemos são pessoas que passam apressadas pelas roletas para conseguir a vez de descida ou subida do plano. No tempo de espera do bonde mais gente se aglomera, fácil perceber que o local não demora muito para esvaziar e para encher novamente. Assim o plano segue a sua rotina.
Apesar do barulho do som que está ligado, dá para ouvir as conversas das pessoas e os seus passos apressados. Cedo, quando começa a funcionar, ou já no final do dia, o movimento não é tão intenso, mas é com certeza uma visão enganosa para aqueles que já estão acostumados com a demanda alta de pessoas durante ano. O Plano Inclinado da Liberdade funciona diariamente, não é fechado em nenhum período do ano, sendo mais utilizado na época da Lavagem do Bonfim.
TrabalhadoresSegundo a Superintendência de Transportes Públicos (STP), órgão responsável pelos planos inclinados, no plano da Liberdade há três mecânicos, três serventes, 20 ascensoristas e três supervisores. Maria dos Reis, 57, é lotada no Plano Gonçalves, mas está há algum tempo no plano da Liberdade, trabalhando 6h por dia. Ela é responsável por receber o dinheiro de quem passa pelo toniquete. “Não me importo de trabalhar aqui, mas aqui a maioria do povo é mais agressivo, né, minha filha? Muitos não dão bom dia”, diz desapontada. Enquanto fala, muitos vão passando, o local fica cheio de gente até que o bonde chega e o local se esvazia novamente. Maria aproveita os minutos de tranqüilidade para continuar: “Às vezes engulo pela minha educação, mas quando o bofe tá aqui…”, desabafa Maria.
Dentro dos bondes, desce e sobe Waldey Carvalho, assessorando o bonde. Ele abre e fecha as portas, trabalhando 6h por dia. Diante de tantos botões, Waldey afirma que alguns só são usados para casos de emergência, mas que desde que trabalha no local, não precisou usar nenhum destes.
SegurançaNo plano nem sempre houve policiamento, mas o Gerente de Equipamentos Urbanos Marcos Guerra afirma que sempre houve uma segurança patrimonial (vigilância). Atualmente o plano conta com dois policiais que auxiliam na segurança do local. Um deles é Luciano Mendes Santana, 44, que trabalha no plano há mais ou menos um ano, por 12h. “Constantemente tem incidentes, o mais grave foi um roubo aqui dentro”, diz o policial. Santana declara também que os finais de semana são mais complicados, porque as pessoas descem para as praias e voltam bêbadas, não querem pagar, tentam pular a roleta. Apesar deste constrangimento que ele enfrenta, afirma que é um serviço que está dentro do padrão, “tá bom”.
O policiamento inibe roubos e assaltos, mas assim ainda acontecem muitos casos no local, principalmente após o desembarque. Quando as pessoas se afastam do plano é que existe o maior perigo. Segundo Santana, já houve um roubo dentro do plano, que ele inclusive acredita ter sido o pior caso até hoje, mas o infrator foi apreendido no local.
Ao continuar observando o movimento no plano e o trabalho dos funcionários é possível perceber que dentro de uma cabine um homem controla os bondes, este faz revezamento com outros. “É um rodízio”, diz Santana. O mecânico do plano, técnico de manutenção, monitora este trabalho de subida e descida. “Trabalho com mecânica preventiva e corretiva”, diz o mecânico, que logo fala que não vai informar o nome. Ele afirma que está no local todos os dias. “Supervisiono tudo de maneira geral, principalmente os defeitos”, conta o mecânico.
Marcos Guerra diz que existem duas manutenções: a corretiva e a preventiva. A corretiva é feita de imediato, quando o componente ou equipamento apresenta defeito. A preventiva é programada e feita nos finais de semana. “Sua estrutura e equipamentos são resistentes, contudo seu sistema elétrico e eletrônico está obsoleto, mas nesta atual gestão vem passando por reestruturação técnica”, ressalta Guerra.
O plano já passou por reformas. Em 1990, 1992 e 1999 os bondes foram modificados e totalmente reformados, com modificações nos bondes, chaparia e pintura, bem como as estações foram reformadas. Marcos Guerra ainda destaca que o plano não dá lucro. “Nenhum dos ascensores dão lucro”, diz ele e emenda: “A renda é revertida no próprio ascensor”.
UsuáriosMuitos são os usuários diários do plano, alunos do colégio Duque de Caxias que moram na Cidade Baixa, como Eldon Cruz, 17, estudante, que afirma que o plano é muito útil para ele, poupa tempo. Assim como o estudante, outra pessoa que também utiliza este meio de transporte todos os dias é o vendedor Carlos Antonio, 44, mora na Liberdade e trabalha na Calçada. “Gosto de usar o plano inclinado por ser um meio de transporte diferente, ágil, barato e eficiente”, diz o vendedor apressado para entrar no bonde.
Muito animada, a professora Sônia Fontes, 37, chega para utilizar o plano. “O plano inclinado pra mim é ótimo, tenho uma cunhada que mora na cidade baixa e sempre que vou à casa dela eu uso o plano. Eu moro na Lapinha e se não fosse o plano teria que dá uma volta danada para vê a minha cunhada. E o preço é bom, é bem baratinho, declara ela com um semblante alegre.
O Plano ajuda muitas pessoas na economia de tempo, como Luana Emanuelle, 19, estudante de administração no Cefet, que estava apressada para usar o transporte. Ela tinha que descer para comprar materiais para um trabalho e ainda voltar em pouco tempo para estudar para uma prova. “Acho que o plano inclinado é uma ótima opção de transporte, liga em pouquíssimo tempo a Liberdade a Calçada. Agora mesmo estou morrendo de pressa e pelo plano poupo tempo”, declara Luana. Francilene Santos Almeida, 27, recepcionista, que ia utilizar o plano pela primeira vez para ir ao Comércio supõe: “Parece ser bom e rapidinho”. Ela estava especialmente animada com o preço: “O valor da taxa de R$0,05 é bom, não é alto dá pra todo mundo pagar”.
ViolênciaNo plano inclinado ocorreram nos últimos meses dois assassinatos. O mais recente chegou a gerar boatos que teria ocorrido dentro do plano. Inclusive os jornais impressos deram esse teor à notícia, causando medo entre as pessoas que moram próximo ao plano e aos freqüentadores. Carlos Alberto dos Santos, um dos supervisores do local, que trabalha mais pela noite das 18h às 00h, esclareceu que ambos os casos de violência não foram dentro do plano, que não influenciaram em nada no funcionamento do mesmo, mas ressalta: “Aqui rola tiro direto”.
A violência tem sido ameaça constante em todos os bairros da cidade e o bairro da Liberdade não está fora desse quadro alarmante. O plano, por sua vez, consegue ficar um pouco distante desta realidade, mas do lado de fora, nas ruas, o perigo ainda persiste.
A correria para descer e subir o plano já é uma imagem rotineira para quem passa pelo local. O plano inclinado é um transporte ágil e barato, que facilita a vida de muitas pessoas. Com certeza, um dia sem este equipamento faria falta a muitos que já estão acostumados a envolvê- lo em suas rotinas.

(outubro de 2007)

Serviços

Superintendência de Transportes Públicos (STP)Elma – Ascom/ ascomstp.ba.gov.brTel: 21093726/3744Fax: 21093733e-mail: stpnet@salvador.ba.gov.brhttp://www.stp.salvador.ba.gov.br/index.phpGerência de Equipamentos Urbanos – Gerente: Marcos GuerraEnd: Av. Vale Dos Barris, 501 – Cep: 40.070-055 – Barris, Salvador – Bahia – Brasil

O mais belo dos belos


por Priscila Bastos


Diante de tanto preconceito e impunidade, em plena ditadura militar, surge o Bloco afro Ilê Aiyê, no Curuzu, Liberdade, bairro de maior população negra do país, onde negros baianos reivindicam igualdade. O Ilê foi fundado em 1974 por jovens comuns do bairro da Liberdade. Antônio Carlos Vovô, que é o presidente até hoje, Aliomar, Macalé e Polônio (já falecido), que já tinham uma percepção das relações de desigualdade, resolveram montar um grupo percussivo que foi tomando corpo e, até hoje, ganha mais força a cada dia.
Ao chegar à sede do Ilê, é possível avistar azulejos com as cores representativas do bloco. Cada uma tem um significado. Vermelho: luta, amarelo: ouro, branco: paz, preto: raça. Na fachada do prédio, o nome: Edifício Antônio Carlos Vovô. No meio, uma escada que dá acesso à sede e, do lado direito, a garagem. Ao subir as escadas há a recepção, onde é possível obter informações. O prédio tem 17 andares e para ir a todas as salas é necessário usar os elevadores.
Dificuldades“No início, início, o poder público fica: ‘Que bloco é esse? Eu quero saber’. É um bloco de uma porção de negros saindo no carnaval para contestar um sistema desigual. Então o poder público, polícia, mídia, não olhava com bons olhos. Hoje o Ilê Aiyê é uma marca, 15 diretores, todos profissionais liberais de suas áreas. Hoje todo mundo quer tá dentro do Ilê Aiyê. Instituição que combate as questões de preconceito: racismo e discriminação. A mídia, hoje, se é Tv Bahia, Tv Aratu, todo mundo parceiro amigo, até onde pode, tem isso também”, conta um dos diretores do bloco, também gestor de projetos e educador Edmilson Lopes das Neves, 47, que está há 15 anos no Ilê.
O Ilê passou por diversas dificuldades. No começo não teve uma boa aceitação por parte de muitos. Ainda hoje existe apreensão para que tudo esteja em dia, para que o recurso financeiro chegue e assim o projeto continue. “Momentos difíceis passamos sempre. Somos uma ONG, quando o recurso não chega, a gente fica com cabeça quente”, ressalta o diretor do Ilê, José Carlos Santos, 51, e também comerciante.
ProjetosO Ilê possui projetos em três linhas distintas: para crianças, adolescentes e idosos. As crianças contam com a Escola Mãe Hilda, que possui oito classes, quatro pela manhã e quatro à tarde. Este espaço possui vários departamentos: coordenação, sala de aula e merendaria. “O Ilê é maravilhoso, pois transmite a nossa cultura que outras escolas negaram, agora passa a ter a Lei 10.639, obrigando o ensino da história cultural afro e a escola aqui do Ilê foi pioneira neste segmento”, conta a professora Sheila da Silva Ferreira, 26, há dois anos e alguns meses no Ilê Aiyê . A diretora da Escola Mãe Hilda, Nildelier Benta dos Santos, 44, está no Ilê desde quando foi fundado e há quatro anos está neste espaço da escola. Para ela, a atitude de trabalhar com a cultura negra e combater o racismo é uma boa iniciativa.
A Band’Erê, escola de percussão, canto e dança está dividida em quatro grupos de 25 crianças e adolescentes que recebem os ensinamentos de: História Afro-Brasileira, Interpretação e Linguagens, Ritmos Musicais, Canto, Dança e Saúde do Corpo. A estudante Dandara Rosa Almeida, 18 anos, há um mês fazendo curso de dança e percussão diz: “O curso eu acho que abre oportunidade para quem quer aprender a dançar, profissionaliza as pessoas”.
O professor André Edmilson dá as normas nas aulas de percussão, com instrumentos que ele mesmo produz, sendo que esta sala onde atualmente estão sendo dadas as aulas de percussão, futuramente será um estúdio. Um som contagiante irradia pela sede do Ilê. A sensação que dá é que muitos negros foram e são calados muitas vezes pelo preconceito, mas o som dos tambores ninguém consegue cessar e este é o grito do Ilê.
As meninas têm acesso às aulas de balé clássico e dança afro com a professora de balé Daniela Costa, que entrou no Ilê este ano. “O balé é importante para a auto-estima das meninas”, conta Daniela, que é formada em Dança. O Ilê oferece também aulas de informática, artesanato e CCN, que é Cidadania e Cultura Negra, fornecendo a estes adolescentes informações essenciais para uma vida em sociedade.
O Ilê conta com um Infocentro, onde há uma lan house que é aberta ao público. Este projeto tem parceria com o Estado e permite que as pessoas fiquem meia hora no local todos os dias com direito a imprimir três cópias. Na sala de Informática, ao lado do Infocentro, são dadas aulas de informática básica. O monitor Ubiratan Vasconcelos dos Santos, 22, que tem 14 anos no Ilê, brinca dizendo que está no Ilê desde que o mesmo foi fundado. “As turmas têm em média 18 pessoas. Há inscrição e seleção, uma prova teórica e dinâmica de grupo”, explica ele emenda: “É uma oportunidade que me deram de eu me capacitar, ser educador. O Ilê oferece curso para a comunidade e trabalha a auto-estima”.
Adolescentes em busca do primeiro emprego também são motivados, através de cursos como ajudante de cozinha, operador de telemarketing, estética afro, fabricação de bolsas e calçados, informática básica. Alguns cursos formarão turmas e estarão em vigor após o carnaval.
A Sala de Costura, onde são confeccionadas bolsas e acessórios e onde são dadas as aulas de corte e costura, possui algumas máquinas de costura e bolsas penduradas na parede que logo chamam a atenção e demonstram o trabalho minucioso que é feito para que o produto agrade às pessoas. As responsáveis por idealizar os modelos são Luciana das Neves Xavier, 29, cinco anos no Ilê e Leila Luzinete Santos da Silva, 25, três anos no Ilê. Elas explicam que o que é produzido neste espaço é vendido na boutique do Ilê no Pelourinho.
O Ilê tem o projeto para terceira idade: Dandarê, que visa melhoria da qualidade de vida. “Toda segunda-feira, a gente traz pessoas para dar informações: médicos, geriatras, todas as áreas que podem tá melhorando esta qualidade, consultora jurídica”, explica Neves. Todos os projetos são gratuitos e funcionam diariamente. O Ilê conta com professores de dança, nutricionista e cozinheiro para as aulas de culinária.
A ONG tem planos musicais e cinematográficos. “O Ilê tem projeto para um novo CD, mas como a gente vive num mundo de pirataria, o Ilê Aiyê nunca lançou um DVD, mas parece que pelo mundo o Ilê Aiyê já lançou meia dúzia de DVDs”, diz Neves. O Ilê está com um projeto inédito, a elaboração do filme “Capitães de Areia”, que contará com a mesma produção do filme Cidade de Deus, com direção de Cecília Amado.
Um dos responsáveis pela seleção de pessoas para o filme é Ramnsés Santos, 30, que fez muitos cursos no Ilê, faculdade de música, além do curso de áudio e vídeo do Ceafro. Ele explica um pouco a história do filme: “Meninos que viviam na rua no século passado, meninos que denunciavam Salvador, estivadores protegiam esses meninos”.
As gravações começam em fevereiro a expectativa é que esteja tudo pronto em agosto. O estudante Wendell Carvalho de Jesus, 12, há cinco anos no Ilê faz parte da escola Mãe Hilda, Band’Arê e participa da seleção do filme. Ele quer ser percussionista e, muito satisfeito, afirma que aprecia as iniciativas do Ilê.
Ensaios para o Carnaval“Os ensaios para o carnaval já começaram, é quinzenalmente. Já foi feito o tema deste ano: Candances, as rainhas do reino Mery, que fica na Etiópia. Já foi feita a classificação das músicas tema e das músicas poesias. Tava Aliomar aqui, junto com Bamba e Mundão preparando o material de praticidade, a gente elege uma temática, a partir da temática se faz uma programação histórica, transforma em apostila. Apostila passa para os compositores que eles produzem uma música tema e uma música poesia. Esse material é reunido, sistematizado e transformado num caderno pedagógico que é o PEP e se dissemina para as escolas. Este ano o tema Candances homenageia vocês, as mulheres do mundo todo, um tema muito gostoso de ser estudado”, ressalta Neves.
Os ensaios para o carnaval aos sábados acontecem em escalas: Banda de nove. Nove percussionistas escalados, mais três dançarinas selecionadas e três cantores, a cada sábado, dependendo da escala. Carine Nascimento de Jesus, 21, trançadeira, trabalhou no camarote do carnaval 2007 trançando cabelos e depois saiu no bloco. “A experiência de ter saído no bloco no carnaval deste ano foi mágico!”, diz Carine.
Daniela Mercury“Quem é que sobe a ladeira do Curuzu? E a coisa mais linda de se ver? É o Ilê Aiyê. O mais belo dos belos dos belos, sou eu, sou eu. Bata no peito mais forte e diga: Eu sou Ilê”. Assim Daniela Mercury homenageia o Ilê e a raça negra nos carnavais.
“Para o Ilê, Daniela Mercury representa mais uma artista dentro do cenário baiano, só. Ela é ativista, particularmente o diretor Edmilson falando, ela poderia ser muito mais ativista, apesar dela beber nesta fonte, ela tem que beber nesta fonte não só quando tiver sede, e ser ativista já que ela tá por aqui”, declara Neves.
A população baiana acredita que Daniela é a branca mais negra do Ilê, o que relembra a pergunta de muitos: Porque não é permitido brancos no grupo? “É uma pergunta que acompanha o Ilê Aiyê. O Ilê Aiyê mantém essa tradição que é muito interessante, muito pertinente, porque se as pessoas brancas que acompanham o Ilê, todos dentro do movimento do Ilê Aiyê não podem tá participando, mas que todas as outras as ações do Ilê é aberta. O Ilê Aiyê não é um bloco que segrega. Ele mantém aquela originalidade dele, esta relação matriz. No dia que o Ilê Aiyê abrir, tem uma porção de pessoas brancas muito interessantes, muito importantes que merecem estar dentro do Ilê, mais do que muitas pessoas negras. Isso de ser negra não quer dizer que tem uma identidade com as questões, mas tem uma porção de pessoas brancas que vão tá dentro do Ilê Aiyê só por uma relação de capital, só uma relação financeira, sem nenhuma identidade, paguei e tô ali, isso vai jogar por terra toda uma história”, explica Neves.
EmoçãoTodos os anos, no Carnaval, o bloco Ilê Aiyê sai nas ruas provocando expectativa e emoção a baianos e turistas que têm a oportunidade de apreciar o desfile do Ilê. “São muitos. Mas eu acho que o momento ímpar é a saída do Ilê sábado, porque você vê um grupamento de afro-descendentes que o ano todo se organizou para poder sair nesse bolo e… orgulho, orgulho de si, da organização, 3 mil associados. Cada um é um rei, cada uma é uma rainha. Eu acho que isso bate forte, vê Mãe Hilda fazendo o ritual de saída do bloco. Esse bloco é muito interessante de pensar, eu acho que esse momento de ápice, e ele acontece todo ano, você se emociona, de ficar arrepiado, de vim lágrima nos olhos, de se assustar pelo desafio de ter que tomar conta de 3 mil associados na rua, levá-los e trazê-los, quarta–feira de cinzas você não vê uma ocorrência do bloco Ilê Aiyê”, diz Neves.
Outro momento de emoção é o aniversário do Ilê, no dia 1º de novembro, comemorando este ano 34 anos e celebrando mais um ano de resistência e de novas propostas. Quem chega à ladeira do Curuzu avista muitas faixas homenageando o Ilê. Uma defronte à sede diz: “Mães feiticeiras, dona do destino, encanto e beleza seduzindo a realeza. Candaces mulheres guerreiras” (Dudu Botelho, Marcelo, Zé Paulo e Luiz Pião).
Curiosa é a escolha da Beleza Negra, Deusa do Ébano, que é realizada um sábado antes do Carnaval. As mulheres têm que saber dança afro e ter dos 18 anos, até a idade do Ilê, no caso, 18 a 34, idade que o Ilê faz este ano.
FuncionáriosO Ilê possui uma quantidade significativa de funcionários, mas não tem como não notar três deles: o recepcionista Luís Ivan Gonçalves da Silva Júnior, há quatro anos no Ilê, muito simpático, mas um pouco tímido no primeiro contato. “É uma entidade que ajuda muitos moradores do Curuzu”. Em um momento de maior descontração ele brinca dizendo que os cursos que ele mais gosta são de marketing e corte e costura.
Gentilmente ele mostra os espaços da sede e explica o que sabe, além de frisar que toca na banda do Ilê. Raimundo Nascimento Bonfim, 34, há três anos no Ilê e Roque Hebert Moura Santos, 23, em meio a muitos risos se definem como “multiuso” no Ilê, pois de tudo fazem um pouco. Sobre o Ilê: “Eu acho que é uma iniciativa boa, os negros se mostrar mais e aí por diante”, diz Bonfim.
Eles contam que o almoço para os funcionários vem da casa de Mãe Hilda, brincando mostram as marmitas que estão dentro de um saco. Este trio maravilha apesar de um pouco tímidos no começo aos poucos interagem e conseguem dá a graça ao Ilê, conseguem recepcionar bem os visitantes e ser mais um atrativo dentro do bloco.
Atualmente, o Ilê possui em torno de 3.500 associados no carnaval e aproximadamente 16 funcionários com carteira assinada. No período de carnaval a escala sobe para quase cem pessoas e nos eventos do bloco, com o trabalho informal, o número também aumenta.
“O objetivo atual do Ilê é trabalhar as questões da afro-descendência, agregando valores, tornando os negros sujeitos críticos de valores. Eu acho que é uma das missões muito lindas, muito, e o Ilê Aiyê vem ao longo da sua história cumprindo isso. Eu acho que o papel do Ilê Aiyê é esse, é tá disseminando história, é tá divulgando as questões, é tá zelando pelo movimento histórico deste homem negro”, informa Neves.
Diante da luta dos fundadores do Ilê, funcionários e associados, a grande lição que todos podem obter é a de que não há limites para os sonhos, a importância de não desistir. Se, diante dos obstáculos, o Ilê tivesse esmorecido, não honraria hoje o significado do seu nome. O Ilê é hoje a Casa Grande que guarda a população da Liberdade, guarda as lágrimas e risos das tristezas e das vitórias, guarda a vontade de seguir e fazer a cada ano o carnaval de Salvador ver a grandeza das nossas raízes, ver a pérola que é a raça negra. “Lá vem a negrada que faz o astral da avenida, mas que coisa bonita, quando ela passa me faz chorar. Tu és o mais belo dos belos, traz paz e riqueza, tens o brilho tão forte, por isso te chamo de pérola negra”.


Serviço
End: Associação Cultural Bloco Carnavalesco Ilê Aiyê, Rua do Curuzu, 228 – Liberdade, Salvador-Bahia-Brasil – CEP.: 40365-000Tel: 3256-8800E-mail: ileaiye@ileaiye.org.brSite: http://www.ileaiye.com.br/

(dezembro de 2007)

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Música no São João




O São João, festa de tradições na culinária, nos ritmos e nas vestimentas vem perdendo suas raízes com o passar dos anos. Hoje a festa junina deixou de ser a expectativa pra usar o vestido estampado e a trança no cabelo, a tradição da fogueira ficou pra trás, e é na música que a festa não é mais reconhecida.
No começo tinha-se o compasso binário que produzia o ritmo da quadrilha, influenciada pelas danças rurais da Normandia e Inglaterra, passou pela França até que adentra no Brasil no século XIX.
A sanfona, o triângulo, o forró pé de serra estão cada vez mais extintos com a presença do forró elétricos, o estilo carnavalesco se adentra nesta festa onde as pessoas só querem é dançar este novo estilo. O forró, o baião, o xote e o xaxado ficam sem espaço nas festas de São João; festas privadas e muito bem pagas, pra dançar forró a noite inteira? Sim, dançar o forró elétrico.
Para alguns historiadores e antropólogos o forró vem perdendo suas raízes, já para outros músicos o que acontece é uma reciclagem desta tradição para evitar que seja extinta. Mas o aprimoramento dado ao forró com as músicas que ouvimos hoje é questionável: “Chupa que é uma uva”, música interpretada pela banda Aviões do Forró é apelativa, sendo esta a característica da festa junina moderna.
O estilo musical forró elétrônico é tocado em muitas cidades do Norte e do Nordeste, o diferencial é o trio elétrico e o ritmo agitado que faz todo mundo pular. São muitas as bandas adeptas deste novo ritmo: Cavaleiros do Forró e Aviões do Forró são as bandas que apostam em gravações de DVD e shows com o novo jeito de dançar.
Outro estilo é o forró universitário que teve o seu ápice em 2001 com o advento do grupo Falamansa. Este modo de dançar forró é mais rápido que o xote. Com a intensificação de pessoas das camadas médias participando do forró surgiu este estilo. Quando o assunto musicalidade no São João surge traz muitas divergências, há quem goste dos novos ritmos e acredite que o forró não perde suas raízes, mas esta sendo aprimorado, outros acham que os novos ritmos e as letras das atuais músicas reforçam a extinção do verdadeiro forró e o sentido da festa junina.
.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

A Sangue Frio


Introdução

Este trabalho tem como objetivo abordar a análise de dois filmes: Sangue Frio (In Cold Blood) e Capote diante do livro “A Sangue Frio”. Aspectos do filme são expostos (foco narrativo, seqüência de fatos, cenário, personagens) contrapondo com a narração exposta pelo livro.
A intenção é averiguar tais aspectos nos filmes e no livro, observando semelhanças e diferenças. O filme Sangue Frio (1967) relata o assassinato da família Clutter ocorrido em 1959 na cidade de Holcomb, no Kansas, Estados Unidos. Este filme consegue em muitas falas utilizadas ser fiel às passagens do livro, os criminosos Perry Smith e Dick Hickcock são mostrados com características físicas e psicológicas semelhantes ao que Capote escreve.
A cena do crime permite que leitores afoitos por verem diante de si reproduzidas as imagens idealizadas sintam-se satisfeitos ao verem a família Clutter indo dormir e a casa sendo invadida como Capote escreveu.
A cena mais esperada, no filme tem muito suspense, melancolia e reflexão. Assim como o livro, o longa-metragem humaniza os assassinos desde esta cena, na qual Perry conversa com Nancy, com um tom de amizade nada comum no contexto de um assalto que faz o telespectador lembrar que assim como a família Clutter, ambos os assassinos são pessoas com qualidades e defeitos, o defeito de matar questionável por todos.
O filme “Capote” aborda a visão que o jornalista Truman Capote tem dos fatos, é possível assistir a investigação de Capote na cidade de Holcomb, onde o mesmo conversa com a melhor amiga de Nancy, conversa com os criminosos, consegue adentrar na prisão e mantém amizade intensa e apego com Perry. A homossexualidade do autor fica exposta e suas fraquezas pessoais também.
O projeto traz também o histórico de Capote e a vida deste autor depois do livro “A Sangue Frio”.

In Cold Blood) 1967

Ficha Técnica:Título Original: In Cold BloodGênero: PolicialTempo de Duração: 134 minutosAno de Lançamento (EUA): 1967Estúdio: Columbia Pictures Corporation / Pax EnterprisesDistribuição: Columbia PicturesDireção: Richard BrooksRoteiro: Richard Brooks, baseado em livro de Truman CapoteProdução: Richard BrooksMúsica: Quincy Jones
Sinopse
Holcomb, Kansas. Dois ex-condenados, Perry Edward Smith (Robert Blake) e Richard "Dick" Eugene Hickock (Scott Wilson), invadem a casa dos Clutter, pois Herbert Clutter (um rico fazendeiro teria um cofre com US$ 10 mil).
Esta informação vinha de uma "fonte segura", Floyd Wells, um condenado que conheceu Dick na prisão e lhe contou que viu o cofre quando, anos atrás, trabalhou para os Clutter. Mas Perry e Dick não acharam o cofre, pois ele não existia, e roubaram apenas US$ 43. Isto não os impediu de matarem Herbert, a esposa dele e um casal de filhos, pois não queriam deixar testemunhas.
Alvin Dewey (John Forsythe) comanda as investigações e tenta encontrar alguma pista que leve aos assassinos. No entanto Dick e Perry foram para o México, onde Perry tem fantasias de achar um fabuloso tesouro. Quando os sonhos dele redundam em nada, Dick insiste que voltem para os Estados Unidos. Certos de que não deixaram alguma pista, eles trocam cheques sem fundo e são pegos em Las Vegas, dirigindo um carro roubado. Aos poucos os álibis vão sendo desmontados, pois contam histórias contraditórias.

Capote 2005

Informações TécnicasTítulo no Brasil: CapoteTítulo Original: CapotePaís de Origem: EUAGênero: DramaClassificação etária: 16 anosTempo de Duração: 98 minutosAno de Lançamento: 2005Estréia no Brasil: 24/02/2006Site Oficial: http://www.capoteofilme.com.brEstúdio/Distrib.: Columbia PicturesDireção: Bennett Miller
Capote é um filme biográfico sobre Truman Capote, na sequência dos acontecimentos durante a escrita de não-ficção do livro A Sangue Frio. Philip Seymour Hoffman ganhou vários prêmios, incluindo o Oscar de melhor ator, para o seu aclamado título de retratar o papel.

Sinopse
O filme abre em Kansas com a descoberta dos corpos de quatro dos membros da família Clutter por uma família amiga. Ao ler o The New York Times, Truman Capote é rebitado pela história do Clutters e através de um chamado de William Shawn, editor do The New Yorker, ele vai pessoalmente cobrir a tragédia.
Capote viaja para Kansas com o seu amigo de infância Harper Lee. Capote entrevista pessoas envolvidas com as vítimas da família Cluter. O investigador Dewey, é um fã da escrita de Capote, e lhe convida para ir até sua casa para jantar. A partir das investigações e entrevistas Capote vai à prisão onde os suspeitos (Perry Smith e Dick Hickock) se encontram.
Capote começa a formar um vínculo com Perry. Após seu julgamento e condenação, Capote é capaz de ganhar acesso aos assassinos por subornar o diretor. Capote gasta os anos seguintes visitando regularmente Perry e aprendendo sobre sua vida, com exceção de um ano inteiro imensuravelmente onde Capote abandona Perry e escreve as "primeiras três partes" do livro com Jack Dunphy, em Marrocos e Espanha.
A história de Perry da vida, seu modo perturbado e cheio de remorsos, e sua sinceridade emocional impressionavam Capote. O escritor fica ligado emocionalmente com Perry e sente compaixão por ele, por não suportar o seu envolvimento no assassinato. Eventualmente, Perry diz a ele, em grande detalhe.
A história torna-se uma meditação sobre a necessidade de resgate, mesmo em circunstâncias muito graves. O último recurso é rejeitado e Perry e Dick são enforcados. Na próxima cena Truman está falando. Ele diz-lhe da experiência horrível e lamenta que ele não poderia ter feito nada para detê-lo. Ela responde: Talvez não, o fato é que você não quis. Esta é a última linha do filme.. A próxima e última cena mostra Truman olhando fotos e alguns dos textos e desenhos que lhe deu Perry.
O filme mostra como Philip Seymour retratou abertamente o autor com seus pontos fracos, a fama, o álcool, e atenção. O filme foca principalmente o período em que fez reportagens para seu livro mais marcante, A Sangue Frio, sobre o assassinato de uma família de Kansas, cometido por uma dupla de forasteiros. Nesse período, o escritor desenvolveu uma estreita relação com Perry Smith (Clifton Collins Jr.), um dos assassinos
Capote se tornou uma figura internacional após o lançamento do livro A Sangue Frio, que ele iria publicar após Smith e Hickock serem executados. Hoffman Capote retrata o conflito entre as ambições pessoais literárias e tentando manter o seu papel como um confidente de Perry, um dos dois assassinos condenados.

Foco Narrativo


O narrador é elemento fundamental para o sucesso do texto, pois esse é o dono da voz, o que conta os fatos e seu desenvolvimento. Atua como intermediário entre a ação narrada e o leitor. O narrador assume uma posição em relação ao fato narrado (foco narrativo), o seu ponto de vista constitui a perspectiva a partir da qual o narrador conta a história.
O foco narrativo em 1ª pessoa
Na narração em 1ª pessoa o narrador é um dos personagens, protagonista ou secundário. Nesse caso ele apresenta aquilo que presencia ao participar dos acontecimentos. Dessa forma, nem tudo aquilo que o narrador afirma refere-se à “verdade”, pois ele tem sua própria visão acerca dos fatos; sendo assim expressa sua opinião.
Foco narrativo em 3ª pessoa
Na narração em 3ª pessoa o narrador é onisciente. Oferece-nos uma visão distanciada da narrativa; além de dispor de inúmeras informações que o narrador em 1ª pessoa não oferece. Nesse tipo de narrativa os sentimentos, as idéias, os pensamentos, as intenções, os desejos dos personagens são informados graças à onisciência do narrador que é chamado de narrador observador.
Em “A sangue frio” – O foco narrativo predomina o narrador onisciente: É aquele que sabe de tudo. Há vários tipos de narrador onisciente, mas podemos dizer que são chamados assim porque conhecem todos os aspectos da história e de seus personagens e sobre o enredo, sabe o que passa no íntimo dos personagens, conhece e descreve suas emoções e pensamentos, é capaz de revelar suas vozes interiores, seu fluxo de consciência. Pode também, descrever coisas que acontecem em dois locais ao mesmo tempo.
No livro “A sangue frio”, Truman chega a narrar em 1ª pessoa no momento em que ele entra na cena, na forma do personagem Jensen, um repórter, o que se caracteriza como um alter-ego – pode ser entendido literalmente como o outro eu, outra personalidade de uma mesma pessoa. Indica uma identidade secreta de algum personagem ou para identificar um personagem como sendo a expressão da personalidade do próprio autor de forma geralmente não declarada. No filme “A sangue frio” o alter-ego de Capote se mostra na cena em que ele desce as escadas com um detetive, que se refere a ele como repórter, em um diálogo, nada extraordinário, simples e rápido.
No filme “Capote” o autor é personagem, existe um narrador onisciente neutro, porém, há também, intervenções com o narrador onisciente intruso.
Verossimilhança
Verossímil não é necessariamente o verdadeiro, mas o que parece sê-lo, graças à coerência de representação-apresentação fictícia. E nem sempre o verdadeiro ficção é verossímil. Pode ser verdade, mas não convence o leitor, exatamente porque desrespeitou as convenções necessárias ao conjunto autônomo da obra.
Desta forma, a narrativa objetiva seria um mito. Mesmo quando o narrador não se interpõe diretamente entre nós e os seres ficcionais, eles são feitos de palavras, escolhidas e arranjadas num conjunto estruturado por alguém – um autor implícito, sempre ao mesmo tempo, oculto e revelado pelo e no que narra.
É notória a relação afetuosa de Truman Capote com um dos assassinos (ou o assino), da família Clutter, Perry Smith. O autor mergulhou fundo no universo deste crime. Com a amizade de Capote e Perry é desvendada as semelhanças nas historias de vida de ambos. Essa proximidade pode ter influenciado o autor do livro a dedicar um capitulo inteiro para descrever a personalidade e as características físicas do assassino. Pretendendo assim, amenizar, o fato de Perry ter cometido um brutal assassinato de quatro pessoas da mesma família. Com essas influencias, o ponto de vista do autor pode perder o foco e a objetividade, trazendo assim o fator verossímil.
Enredo e tempo
Tanto o livro quanto o filme “A sangue frio” seguem uma cronologia mas, não uma linearidade. Entretanto, o filme “Capote” não segue uma linha linear e nem cronológica. Este filme tem inicio com a cena da amiga de Nancy encontrando o corpo, depois volta para o enredo.
Narrar e mostrar
A distinção entre narrar e mostrar tem a ver com a intervenção ou não do narrador. Quanto mais este intervém, mais ele conta e menos ele mostra. Por outro lado, completa essa dupla (narrar e mostrar) a oposição cena e sumário (panorama). Na cena os acontecimentos são mostrados ao leitor diretamente, sem a mediação de um narrador, que ao contrário, no sumário, os conta e os resume, condensa-os, passando por cima dos detalhes e às vezes, sumariando em poucas páginas um longo tempo da história. Fazendo uma relação entre o livro e o filme “A sangue frio”. Pode-se perceber um bom exemplo, quando no livro Truman dá uma grande atenção a um quadro que Perry Smith pintou, na Penitenciaria Estadual de Kansas, onde cumpriu sua primeira pena. Uma figura de Jesus, que o próprio Perry a classifica como falsa. Este quadro ficou pendurado na sala do diretor o presídio, o reverendo James Post, o mesmo que recebe o telefonema de Perry logo no inicio do filme, para saber sobre o paradeiro de seu amigo, Willie Jay, que também havia cumprido pena naquela penitenciária. Neste momento, o diretor do presídio situa-se na frente do quadro, pendurado na parede, no instante em que ele senta-se o quadro não fica mais à mostra. Uma aparição rápida e discreta.


Sequência de Fatos


O filme A Sangue frio (1967) do diretor, Richard Brooks, começa com todos da família Clutter vivos, Nancy conversando com o pai, Kenyon fumando escondido e a mãe no quarto recebendo o copo de leite do filho. Partindo desse pressuposto o filme Capote (2005) com direção de Bennett Miller na primeira cena mostra a morte de Nancy encontrada pela amiga Sue. Em contra partida o livro mostra o perfil psicológico e físico dos personagens, em seguida a morte dos Clutters.
Em Capote (2005) começa a investigação de Truman Capote através de um recorte do jornal para fazer um artigo para o Jornal The New York Times, ao contrário do caso do filme A Sangue Frio (1967) aborda a chegada de Perry na rodoviária de Kansas City e vai ao encontro de Dick que sai da fazenda do pai com a arma nas mãos para cumprir o objetivo: encontrar o cofre da família Clutter.
Ao decorrer das cenas no filme Capote (2005), Catharine e Capote conversam com Sue (melhor amiga de Nancy) que entrega o diário pessoal da amiga, em nenhum momento do outro filme A Sangue Frio aparece a cena da conversa, já no livro essa parte aparece depois que descobrem o assassinato, onde coloca suspeita Bobby (ex- namorado de Nancy) o último sair da casa, horas antes da morte da família Clutter.
Em Capote (2005) a cena do julgamento dos envolvidos pela execução com presença de Truman e amiga Catharine, em A Sangue Frio, os envolvidos são pegos com a polícia que identifica o carro roubado e levam para a delegacia onde eles vêem uma das provas do crime ( a marca do sapato de Perry e a mentira da irmã dele não morar na cidade). No livro coloca em questão eles sendo perseguido pelos policiais por deixarem pistas como: passarem cheques sem fundo num posto de gasolina que os fiscais colocam a placa do carro e para piorar o veículo é roubado.
Truman Capote começa a visitar constantemente Perry buscando mais informações sobre o assassinato, construindo assim uma nova amizade, no outro filme a abordagem da chacina vem dos dois envolvidos contando como e porque estes fizeram isso, Dick fala que foi culpa de Perry que assume a culpa no carro com Alvin.
A Sangue Frio (livro) coloca este assunto com a culpa de Perry, mas mostrando que o fato dele ter matado a família Clutter foi devido a falta de base familiar onde tem uma mãe alcoólatra que morreu sendo sufocada com o próprio vômito, um irmão que se matou devido os ciúmes da namorada e de um pai ter apontado uma arma em direção ao rosto porque a situação apertou entre eles dois.
Sobre os outros personagens apresentados no livro, um dos amigos de celas dos dois personagens principais Roy Church não aparece à amizade que ele adquiriu ao longo da prisão com Dick e a raiva de Perry por ele corrigir todos os erros gramaticais.
Mostra outros dois personagens como os ex-policiais do exercito que matam as pessoas com intuito de mudar o mundo. A parte que fala deste assunto é retratada no filme Capote (2005) os policiais apenas levando para o enforcamento e Perry vendo Roy sendo levado e o enquadramento do livro retrata Capote e Perry vendo a cena em que Church vai indo ao galpão e saindo de lá morto.
No final do filme Capote, o primeiro a ser enforcado entre os assassinos da família Clutter é Dick e logo em seguida Perry, momento antes mostra a emoção de Truman conversando com os prisioneiros, logo no outro filme de 67 não aparece Capote antes da execução, mas durante os enforcamentos ele aparece ao fundo e no livro ele depõe que conseguiu ver apenas a morte de Dick chegou até mesmo vomitar, mas quando chegou à morte de Perry não teve coragem.
No final do livro Truman Capote mostra quanto a personagem Sue cresceu e fazendo faculdade de Arte o que seria o curso de Nancy, Bobby casado e a cidade calma começa a ter mudanças. E nenhum dos filmes aborda esses fatos, eles acabam com enforcamento de Perry.


Cenário

O cenário é um artifício muito importante em uma narrativa, deixar o leitor ciente de onde se passa a história, falar das cores, dos tamanhos, faz com que as pessoas sintam-se parte do que é contado, elas conseguem se deslocar para o ambiente. O cenário no livro é bem descrito e abusa da imaginação do leitor. Quando este se depara com os filmes: A Sangue Frio e Capote consegue perceber em cenas de cada um deles a fidelidade do que foi descrito na obra.
O filme Capote por ter sido feito em preto e branco dá uma sensação de medo e terror em quase todo o filme. Mas é possível perceber a cidade de Holcomb como ela é mostrada no livro: “A cidade de Holcomb fica nas planícies do oeste do Kansas, lá onde cresce o trigo uma área isolada que mesmo os demais habitantes do Kansas consideram distante”. (CAPOTE, 2003, p. 21). A cena mostra justamente que a cidade é isolada.
A casa da família Clutter considerada a mais bela da cidade é exibida no filme Capote com tamanha riqueza de detalhes como no livro: “(...) Situada ao final de um longo caminho de acesso, uma alameda sombreada por duas alas de olmos chineses, a vistosa casa branca erguida no meio de um amplo gramado bem cuidado, causava impressão em Holcomb; era um lugar que as pessoas costumavam apontar (...)”. (CAPOTE, 2003, p. 21). Esta cena no filme faz o leitor vê a casa e trazer da memória o que já sabia desta.
“Nenhum trem de passageiros pára na cidade - só um outro trem de carga. Na estrada a dois postos de gasolina: um também funciona como empório de poucos suprimentos (...)”. (CAPOTE, 2003, p. 22). Esta passagem é exibida no filme “A Sangue Frio” igual ao livro, notamos o nome da cidade, Holcomb, e o nome Empório também nesta cena.
A casa grande da Família Clutter mostrada nas primeiras cenas do filme Capote é confirmada nesta citação do livro: (...) “uma casa de madeira e tijolo de dois andares, com catorze aposentos no total”. (CAPOTE, 2003, p. 23).
Comparando as cenas descritas no livro e nos filmes tomando como base o crime acontecido na casa dos Clutter, o livro traz esta passagem: “Primeiro desceram até a sala da fornalha no porão, onde o sr. Clutter, de Pijama, tinha sido encontrado sobre a caixa de papelão do colchão. Acabando ali seguiram para a sala de jogos, onde Kenyon tinha sido morto. O sofá, uma reliquia que Kenyon tinha resgatado e consertado e que Nancy tinha forrado e coberto com almofadas com frases bordadas, estava arruinado pela quantidade de sangue que absorvera”. (CAPOTE, 2003, p. 109).
Tal passagem é muito semelhante ao que o filme “A Sangue Frio” mostra, porém o livro descreve mais os ambientes.
Através desta citação: “Havia dois telefones na casa- um na saleta que o pai usava como escritório, outro na cozinha (...)”. (CAPOTE, 2003, p. 39). Nota-se que o filme A Sangue Frio foi fiel a esta passagem, mostrando na parte do crime esta cena dos telefones.
“Alguns quilômetros ao norte na agradável cozinha de uma modesta casa de fazenda, Dick consumia um almoço de domingo. (...) Quando terminou a refeição, os três membros homens da família instalaram-se na sala para assistir a um jogo de basquete pela tevê (...)”. (CAPOTE, 2003, p. 106-107). Esta citação relata Dick em casa com a família vendo o noticiário na tv sobre o crime. O filme A Sangue Frio não é fiel nesta passagem do livro, a cena é curta e Dick está apenas com o pai.
Após serem pegos pela polícia, no momento em que são interrogados Dick e Perry contam como aconteceu o crime: “Certo Dick. Estou com você. E então voltamos. Estacionamos no mesmo lugar de antes. Na sombra de uma árvore. Dick calçou as luvas eu já tinha posto as minhas. Ele levou a faca e uma lanterna. Eu levei a espingarda. A casa parecia imensa a luz da lua.” (CAPOTE, 2003, p.294). Esta passagem foi exibida no filme A Sangue Frio, no qual notamos que eles pararam numa árvore próxima a casa e se aprontaram com as armas para adentrarem na casa.
A coletiva dada aos jornalistas aparece ambos os filmes, em Capote todos estão atentos ao que é dito, em A Sangue Frio afoitos os jornalistas perguntam e fotografam. “(...) Na segunda-feira, ao meio dia, Dewey deu uma entrevista coletiva no gabinete do xerife (...)”. (CAPOTE, 2003, p. 112).
O filme A Sangue Frio mostra a investigação do crime feita por Dewey sem adentrar na vida pessoal deste, o filme Capote mostra, porém adentra na vida pessoal do invetigador.“(...) Dewey retirou-se para o seu gabinete, uma sala que o xerife o tinha emprestado temporariamente (...) as fotografias da cena do crime tiradas por um fotográfo da polícia- vinte ampliações do crânio esfacelado do sr. Clutter (...) Dewey passaria horas a examinar essas fotos (...).” (CAPOTE, 2003, p. 113).
O espaço da casa e o fato do casal dormir separado ficam nítidos nesta passagem: “(...) O sr. Clutter dormia no quarto principal do andar térreo, a sra. Clutter e os filhos ocupavam outros quartos no andar principal. (...)”. (CAPOTE, 2003, p. 113). na cena do crime do filem a sangue frio esta passagem é percebida.


A maneira como Truman Capote descreve o cenário em todas as cenas fica nítido em mais uma passagem reproduzida no filme A Sangue Frio: “O sr. Clutter mostrou os quartos onde o rapaz e a menina deviam estar dormindo, e então abriu a porta do quarto da mulher. Acendeu um abajur ao lado da cama e disse a ela: “Tudo bem, querida. Não fique com medo (...)”. (CAPOTE, 2003, p. 298).
A cadeia onde os criminosos ficam presos é tratado na cena de A Sangue Frio como cadeia comum e não como está no livro, que é a prisão na casa do Xerife. A prisão da passagem do livro está presente no filme Capote. “A cadeia contém seis celas; a sexta, reservada para as ocasionais prisioneiras, é na realidade um aposento isolado situado dentro da Residência do Xerife – na verdade anexa a cozinha do casal”.
O momento da execução é mostrado em ambos filmes, cada um com um olhar, no filme A Sangue Frio , o jornalista Capote não está sensibilizado com a cena como está no filme Capote. A passagem do livro exibida no filme A Sangue Frio descreve bem o contexto do cenário: “Acompanhado por seis guardas e um capelão que murmurava suas preces, entrou no lugar da morte algemado e usando um horrendo arreio feito de tiras de couro que prendia seus braços ao tronco. Ao pé do cadafalso, o diretor leu par ele a ordem oficial de execução (...)”. (CAPOTE, 2003, p. 417).
Fica claro com as passagens do livro e análise das cenas dos filmes que em alguns momentos cenas de A Sangue Frio e Capote contemplam tamanha descrição do ambiente.

















Personagens




Personagens e atores:

Perry Smith- Robert Blake
Richard 'Dick' Hickock - Scott Wilson
Alvin Dewey - John Forsythe
Jensen - Paul Stewart
Sr. Hickock - Jeff Corey
Roy Church - John Gallaudet
Harold Nye - Gerald S. O'Loughlin
Clarence Duntz - James Flavin
Juiz Roland Tate - John Collins
Tex Smith - Charles McGraw
Oficial Rohleder - James Lantz
Herbert Clutter - John McLiam
Nancy Clutter - Brenda Currin Bonnie Clutter - Ruth Storey Kenyon Clutter - Paul Hough Reverendo Jim Post - Sheldon Allman Floyd - Sammy Thurman Namorado de Nancy - Richard Kelton Susan Kidwell - Mary Linda Rapelye


Personagens – Capote 2005
No filme Capote de 2005, tendo no papel principal o ator Philip Seymour Hoffman, sendo que sua brilhante atuação lhe rendeu o Oscar de melhor ator e aclamação do publico e da critica, no papel do jornalista Trumam Capote, o protagonista do filme. O filme conta a história do jornalista que ao ler a noticia do assassinato no jornal New York Times dos membros da família Cluter, em Halcomb, no Kansas, Estados Unidos, percebe que o fato pode virar um excelente artigo, e mais tarde acabou tornando-se um grande sucesso literário. Capote descreve todos seus personagens na forma física e psicológica no livro.
Durante todo esse tempo Capote investiga os assassinos da família Cluter, Perry Edward Smith (Clifton Collins Jr), e Richard Eugene Hickock, (Mark Pellegrino) como os moradores de Halcomb, durante um ano e meio em que passou no Kansas. Durante o decorrer do filme percebemos que Perry é o "queridinho" de Capote, como também no livro, dedicando um capitulo ao assassino.
O filme de 2005, não é fiel ao livro como o filme de 1967, A sangue Frio. Capote é retratado como um personagem tipo, mostrando suas características peculiares e seus trejeitos afeminados, como também um personagem redondo que no inicio da trama aparece como um jornalista, que está em busca de uma grande oportunidade para revolucionar o mercado literário. No entanto no final da adaptação cinematográfica, ele mostra seu lado frágil, e totalmente sensível no julgamento dos assassinos.
Outros personagens são incluídos na adaptação cinematográfica como seu companheiro Jack Dunphy (Bruce Greenwood), atuando como um personagem coadjuvante e sua amiga inseparável Nelle Harper Lee (Catherine Keener), que também atua como uma personagem coadjuvante. Mostra também como o jornalista ficou intimo da família do investigador Alvin Dewey (Cris Cooper), outro coadjuvante na história.
Outra situação relevante no filme, é a confissão de Perry, como o único assassino dos quatro membros dos Cluter: John McLiam (Herbert Clutter), Brenda Currin (Nancy Clutter), Ruth Storey (Bonnie Clutter), Paul Hough (Kenyon Clutter). No filme a confissão é feita a Capote, que encenava muito bem para conseguir o que queria. Ao contrario do filme, a confissão no livro é feita ao investigador Alvin, durante a volta de Las Vegas onde foram presos, quando estavam à caminho do Kansas.
Dick foi apenas um personagem coadjuvante, em Capote, já que o protagonista da história se identificou com a fragilidade de Perry e ao mesmo tempo com sua esperteza. Ao mesmo tempo em que Perry é um personagem coadjuvante, também não deixa de ser um personagem redondo, já que em algumas passagens do filme, mostra sua fragilidade, diferente do momento em que tirou a vida dos assassinados. Outra passagem que mostra esse aspecto narrativo é durante a greve de fome, na penitenciária.
Como o filme retrata a trajetória de Capote para escrever seu livro, A Sangue Frio, Perry e Dick podem ser apontados como antagonistas, já que não queriam no inicio colaborar com seus depoimentos, para o jornalista.


Personagens - Capote – 2005
Truman Capote Nelle Harper Lee
Perry SmithAlvin DeweyJack DunphyWilliam Shawn Marie Dewey Richard HickockLaura KinneyWarden Marshall KrutchDorothy SandersonRoy ChurchHarold Nyexerife Walter Sanderson
Familia Clutter



O autor

O autor do livro A Sangue Frio, Truman Capote , nasceu em Nova Orlenas no ano de 1924, adotou por conta própria aos onze anos o sobrenome do padrasto, Joseph Garcia Capote em 1935. Truman faleceu na Califórnia no ano de 1984. Mas antes de sua morte teve muitas datas relevantes que são destacadas abaixo:
1941-1944- trabalhou como office- boy na editoria de arte da The New Yorker.
1945- Publicou dos contos: um na revista Mademoiselle, outro na Haper’s Bazaar.
1948- publica Other voices, other rooms, romance gótico ambientado no Sul dos Estados Unidos.
1949-Truman publica a coletânea de seus contos, também góticos, A tree of night,
1951- Publica um romance mais ligeiro, A harpa de ver, que acabou virando primeiro, peça de teatro e, já no século XXI virou telefilme.
1958- Capote publica uma novela Breakfast at Tiffany’s.
1959- Capote folheia o The New York Times e encontra uma nota de dois parágrafos sobre como sr. e sra. Clutter foram assassinados. Capote achou que este fato poderia dá num bom livro sobre crime e sobre um estado que desconhecia o Kansas. Fez as malas e partiu para Holcomb na companhia de sua amiga Harpeer Lee. Os criminosos ainda eram desconhecidos e não haviam sido capturados.
Em Holcomb, a figura urbana de Capote assusta as pessoas da pequena cidade e Harper Lee ajuda Capote a conseguir chegar às pessoas entrevistadas. Truman sabia ouvir e consegue conquistar os habitantes do Kansas. Consegue ter acesso aos criminosos; teria Capote identificação com Perry pela homossexualidade? Pelo histórico de vida?
O jornalista Dispensava uso do gravador e conseguia registrar em sua mente 95% de todas as conversas. Para ele jornalismo era apenas fotografia literária, desejava um gênero só para ele.
Em 1966, A Sangue Frio é lançado e virou estrondoso sucesso de crítica e de vendas e Capote consegue chegar ao novo gênero: livro-reportagem. Após ter escrito dez livros, entre peças de teatro, romances e perfis jornalísticos, Truman morre em 1984 debilitado pelo álcool e pelas drogas após uma parada cardíaca.




Considerações Finais

O gênero literário do livro A Sangue Frio, a fidelidade da citação dos entrevistados, o possível caso de Capote com Perry Smith causam divergências e são temas polêmicos. A vida do autor também é cheia de contradição, um homem inteligente que se esbalda em festa, bebida e drogas, e que se sente sensibilizado com a versão dos criminosos diante do assassinato.
O livro A Sangue Frio e ambos os filmes aqui tratados deixam a narrativa que houve uma identificação do autor com Perry, o monstro que o criminoso era passado para a sociedade pelo ato que cometeu estava diante do monstro Capote, homem inteligente e com vida difícil que assombrou a si mesmo, morrendo pelo álcool e pelas drogas.
Na cidade de Holcomb ninguém fechava as portas, mas depois do assassinato a cidade não era mais a mesma, assim como a sociedade atual feita de muitas famílias como a dos Clutter, com muitos marginais como Perry e Dick.
A realidade vivida por esta família esta estampada diariamente em jornais, revistas e na TV, a situação não mudou desde o lançamento do livro de Truman, a realidade está a cada dia pior, vivemos uma era “a sangue frio”.





















Referências Bibliográficas

CAPOTE, Truman. A sangue frio: relato verdadeiro de um homicídio múltiplo e suas conseqüências. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

NETO,Efraim. Nas veias de “A SangueFrio”. Disponível em: http://canada.tigweb.org/express/panorama/article.html?ContentID=19813&start=5310tID=19813&start=5310. Acesso em: 24/05/09.