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domingo, 28 de junho de 2009

Shopping Liberdade: suas belezas e contradições

por Priscila Bastos

O Shopping Liberdade atrai pela sua estrutura arquitetônica. Não há como passar de ônibus ou a pé e não sentir vontade de entrar. A arquitetura chamativa, uma fachada com o nome do shopping, as plantas, as entradas: pela esquerda, direita e pelo meio, são atributos que despertam curiosidade de todos que por ali passam. Embora seja tão atraente aos olhos de todos, a situação não tem sido muito favorável. Segundo declarações de comerciantes, um dos motivos é que o retorno não tem sido o esperado, há uma baixa freqüência.
O estabelecimento possui três andares e 120 lojas, das quais 67 estão em funcionamento e 53 fechadas. Os estabelecimentos mais procurados são as lojas de telefonia, loteria, farmácia e restaurante. Com uma construção bem elaborada, deveria estar em melhores condições, certamente é o que passa pela mente das pessoas que não conhecem o shopping ao saberem que um número significativo de lojas estão fechadas.
O shopping Liberdade atravessa momentos de mudança: lojas fechadas, outras investindo em um negócio antigo e outras que chegam para arriscar. Como é o caso da loja Claro, que está no local há quase três meses. Danieli Telles Coelho, 18, e Ivo Adorno da Silva, 23 , vendedores da loja, muito simpáticos, estão descontentes com o negócio. “O shopping tem pouco movimento, pouco marketing”, declarou Danieli. Desanimada com o rumo das vendas, Danieli diz que não acredita na mudança do shopping e, sim, dos capacitados.
O gerente comercial, formado em administração, José Luiz Werneck Maria, que está no cargo há três anos, fala de maneira muito sincera, fazendo revelações inimagináveis para meros freqüentadores, que na correria não param para questionar a atual situação do estabelecimento. Apesar de não estar na administração na época da implantação, Werneck afirma com certeza que o retorno não é o esperado. Para ele, houve um erro na implantação: “Muitas lojas estão fechando porque não foi definida a classe a ser atendida”. Werneck deixa claro outra problemática para o insucesso do shopping: “O shopping de bairro é administrado por várias cabeças”. Assim como o gerente, a comerciante Ana Oliveira, 40, que possui duas propriedades no estabelecimento, atribui o insucesso do shopping ao fato da administração ter muitos operadores, muitas opiniões. Esta dificuldade ressaltada por ambos também pôde ser percebida quando o Shopping Liberdade ganhou o Top of Mind 2005, prêmio de melhor shopping de bairro. Com indignação, o gerente conta que os próprios administradores duvidaram do prêmio e que eles foram acusados de comprar o prêmio.
PúblicoOs freqüentadores do shopping também arriscam palpites sobre o shopping Liberdade, é o caso de Paloma Alves, 19, estudante de psicologia. Ela, que freqüenta os boxes de xerox, as lojas de telefonias, lanchonetes, fala que “o shopping tem uma arquitetura boa, quem passa tem vontade de entrar, mas as lojas fechadas e a imagem já instalada que vende caro faz com que as pessoas não freqüentem”. Paloma aposta na melhoria do shopping, para ela é preciso colocar lojas que atraiam mais. Com bom humor, ela brinca: “Queria que o shopping tivesse uma loja Canal Jeans, Americanas e C&A”.
Muito interessante foi encontrar um casal de São Luís do Maranhão apreciando a vista da Baía de Todos os Santos. Otávio Lousado, 31, gerente da Insinuante de São Luis e sua esposa Elaina Lousado, 22, atualmente dona de casa, estavam visitando familiares nas proximidades do shopping e resolveram conferir a vista para a Bahia de Todos os Santos, que por sinal os encantou. “Muito bonito, uma imensidão”, afirmou Elaina.
Segundo o gerente comercial do shopping, o estabelecimento não foi criado por causa da vista, o local era um campo de futebol, depois supermercado e por oportunidade foi colocado o shopping. Mas existe o plano de fazer da vista, um turismo cultural, ou seja, fazer parte do circuito cultural já existente na Liberdade, mas isto ainda não foi definido.
Comerciantes de sucesso Apesar dos conflitos que o shopping vem passando, “pouco movimento”, queixa dos comerciantes e “preço nada acessível”, na opinião dos moradores, há exemplos que se salvam diante de tanta contradição. Como a baiana do acarajé Josenice Brotas, 36, que trabalha no local desde que o shopping foi inaugurado. Ela já é consagrada por ser a única baiana a trabalhar em frente ao shopping e por fazer acarajés e abará muito gostosos! Vale a pena ir ao shopping a partir das 17h, horário em que a baiana chega, para conferir. O interessante é que Josenice trabalha na área externa do shopping. Quando perguntada porque não colocou um stand na parte interna, ela afirma que foi escolha, assim tem clientes dentro e fora do shopping.Silvana Soares, 37, uma vendedora alto-astral, também tem conseguido driblar os problemas que o shopping vem enfrentando. Silvana que está no shopping há quase três anos, tem um boxe logo na entrada do shopping, pelo lado esquerdo, onde vende doces. “Acho o comércio fraco, pra comida é fraco, mas a gente consegue se virar”, afirma e emenda: “Como em todo shopping, o fluxo era maior no começo, agora reduziu, mas já consegui fazer meus clientes. Se saísse, faria falta”.
Muito interessante é a comerciante Ana Oliveira, 40, popularmente conhecida como Xuxa. Ela tem dois boxes no shopping, um no primeiro andar, há quatro anos, e outro no térreo, há três meses, ambos de alimentos. Seus boxes possuem destaque pela variedade: bombons, salgados, doces, café, suco, de tudo tem um pouco. “O meu comércio tem sido bom, mas o shopping é fraco”, conta Ana. Ela tem sido um dos poucos comerciantes a emplacar no shopping, talvez o seu apelido esteja ajudando no sucesso.
EventosO shopping, a depender das datas comemorativas, oferece vários eventos, por exemplo nas estações do ano:na primavera costuma-se colocar floricultura. Há também desfiles, que consistem em exibir os produtos das diferentes lojas. Alguns eventos já estão definidos, como: música ao vivo todas as sextas-feiras durante duas horas e aulas de dança de salão todas as segundas, quartas e sábados, das 17h às 20h na praça de alimentação. A divulgação destes eventos é feita através do rádio, carros de som e através do jornal A tarde. Sobre tais eventos Werneck fala com saudades do Projeto “Painel da Liberdade”, que consistia em dá oportunidade a novos talentos, mas não foi a frente por problemas na administração.
ConstrangimentoA partir das 21h, já é possível observar em frente ao shopping pessoas se acomodando para passar a noite. Quem passa às 6h da manhã se assusta com uma fila grande, onde pessoas em pé aguardam senhas do SAC para retirar identidade gratuita e resolver outros problemas. Não há senhas para todos e é possível identificar o descontentamento das pessoas. É possível ouvir: “Devia ter ido no shopping Iguatemi”.
Ana Cristina, 31, que esperava para ser atendida, colava apressada com vários pedaços de durex a certidão de nascimento original do pai, resmungando muito. Ela acha que não vai conseguir novamente resolver o seu problema. Mora na Fazenda Grande e não freqüenta o shopping Liberdade. “É a segunda vez que fico nesta fila”, fala de maneira desolada.
A população de baixa renda se vê diante de um belo shopping onde de nada usufruem, apenas passam pelo constrangimento de encarar uma fila imensa para muitas vezes não conseguirem senha. Os funcionários do SAC tentam uma organização, mas bem se vê que a manhã será longa diante de tanta burocracia: senhas limite para tirar a carteira de identidade, além de outras pessoas que estão ansiosas para resolverem outros problemas.
Tal situação me remonta a citação de Werneck: “Não foi definida a classe a ser atendida”. Talvez a principal encruzilhada do shopping seja o fato de querer lidar com o público criado e não o real, não a população batalhadora da Liberdade. O shopping conta com projetos futuros como a capitação de novas lojas e equacionar público-loja, loja-público.

(outubro de 2007)

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