por Priscila Bastos
Os planos inclinados fazem parte da história da cidade e foram pensados para driblar a difícil tarefa que era subir e descer as enormes ladeiras que separam Cidade Alta e Baixa ou mesmo diminuir o tempo que se levava para dá voltas até chegar a parte baixa de Salvador. A cidade possui três planos inclinados, um deles é o da Liberdade (liga o bairro da Liberdade a Calçada), que funciona com dois bondes amarelos e grandes, que permitem ao passageiro apreciar a vista da Cidade Baixa. Nem sempre se acha um local para sentar, mesmo assim, isto não é problema, pois a duração do trajeto é de 1,67minutos/segundos, o que faz compensar o percurso, já que, de ônibus, leva-se muito mais tempo para chegar a Cidade Baixa. O Plano Inclinado da Liberdade foi inaugurado em 1981. Idealizado e inaugurado na gestão do prefeito Mário Kertsz, entrou na história urbana como um moderno equipamento que torna mais fácil o deslocamento de pessoas entre o populoso bairro da Liberdade e a região da Calçada. Dos três planos inclinados, ele é o que tem maior demanda de passageiros, transportando 235 mil pessoas por mês.
O funcionamento se dá de segunda a sexta-feira, das 7h à meia noite. Aos sábados, das 7h às 19h, e, aos domingos, das 7h às 18h. “O funcionamento nos finais de semana foi nesta administração, por determinação do prefeito João Henrique. O funcionamento era só até às 19h do sábado”, declara o gerente da Gerência de Equipamentos Urbanos, Marcos Guerra. Ele afirma ainda que a atual gestão tem se mostrado atenta aos problemas e vem buscando melhorias.
O Plano liga a Praça Nelson Mandela (Liberdade) à Rua Barão de Vila da Barra (Calçada) com tarifa de R$0,05. Dois bondinhos, cada um com capacidade para 36 pessoas, atendem a demanda média mensal, que é de 235.217 passageiros. Segundo informação divulgada pela Assessoria e Consultoria (Astec) no site da Superintendência de Transportes Públicos, a demanda total de janeiro a agosto deste ano foi de 2.364.213.
O Plano Inclinado é um meio de transporte que facilita a vida de muitas pessoas. É possível observar que muitas descem e sobem em alguns minutos, conseguindo resolver de maneira rápida o que precisam na Liberdade ou no Comércio. Ao chegar ao plano, o que vemos são pessoas que passam apressadas pelas roletas para conseguir a vez de descida ou subida do plano. No tempo de espera do bonde mais gente se aglomera, fácil perceber que o local não demora muito para esvaziar e para encher novamente. Assim o plano segue a sua rotina.
Apesar do barulho do som que está ligado, dá para ouvir as conversas das pessoas e os seus passos apressados. Cedo, quando começa a funcionar, ou já no final do dia, o movimento não é tão intenso, mas é com certeza uma visão enganosa para aqueles que já estão acostumados com a demanda alta de pessoas durante ano. O Plano Inclinado da Liberdade funciona diariamente, não é fechado em nenhum período do ano, sendo mais utilizado na época da Lavagem do Bonfim.
TrabalhadoresSegundo a Superintendência de Transportes Públicos (STP), órgão responsável pelos planos inclinados, no plano da Liberdade há três mecânicos, três serventes, 20 ascensoristas e três supervisores. Maria dos Reis, 57, é lotada no Plano Gonçalves, mas está há algum tempo no plano da Liberdade, trabalhando 6h por dia. Ela é responsável por receber o dinheiro de quem passa pelo toniquete. “Não me importo de trabalhar aqui, mas aqui a maioria do povo é mais agressivo, né, minha filha? Muitos não dão bom dia”, diz desapontada. Enquanto fala, muitos vão passando, o local fica cheio de gente até que o bonde chega e o local se esvazia novamente. Maria aproveita os minutos de tranqüilidade para continuar: “Às vezes engulo pela minha educação, mas quando o bofe tá aqui…”, desabafa Maria.
Dentro dos bondes, desce e sobe Waldey Carvalho, assessorando o bonde. Ele abre e fecha as portas, trabalhando 6h por dia. Diante de tantos botões, Waldey afirma que alguns só são usados para casos de emergência, mas que desde que trabalha no local, não precisou usar nenhum destes.
SegurançaNo plano nem sempre houve policiamento, mas o Gerente de Equipamentos Urbanos Marcos Guerra afirma que sempre houve uma segurança patrimonial (vigilância). Atualmente o plano conta com dois policiais que auxiliam na segurança do local. Um deles é Luciano Mendes Santana, 44, que trabalha no plano há mais ou menos um ano, por 12h. “Constantemente tem incidentes, o mais grave foi um roubo aqui dentro”, diz o policial. Santana declara também que os finais de semana são mais complicados, porque as pessoas descem para as praias e voltam bêbadas, não querem pagar, tentam pular a roleta. Apesar deste constrangimento que ele enfrenta, afirma que é um serviço que está dentro do padrão, “tá bom”.
O policiamento inibe roubos e assaltos, mas assim ainda acontecem muitos casos no local, principalmente após o desembarque. Quando as pessoas se afastam do plano é que existe o maior perigo. Segundo Santana, já houve um roubo dentro do plano, que ele inclusive acredita ter sido o pior caso até hoje, mas o infrator foi apreendido no local.
Ao continuar observando o movimento no plano e o trabalho dos funcionários é possível perceber que dentro de uma cabine um homem controla os bondes, este faz revezamento com outros. “É um rodízio”, diz Santana. O mecânico do plano, técnico de manutenção, monitora este trabalho de subida e descida. “Trabalho com mecânica preventiva e corretiva”, diz o mecânico, que logo fala que não vai informar o nome. Ele afirma que está no local todos os dias. “Supervisiono tudo de maneira geral, principalmente os defeitos”, conta o mecânico.
Marcos Guerra diz que existem duas manutenções: a corretiva e a preventiva. A corretiva é feita de imediato, quando o componente ou equipamento apresenta defeito. A preventiva é programada e feita nos finais de semana. “Sua estrutura e equipamentos são resistentes, contudo seu sistema elétrico e eletrônico está obsoleto, mas nesta atual gestão vem passando por reestruturação técnica”, ressalta Guerra.
O plano já passou por reformas. Em 1990, 1992 e 1999 os bondes foram modificados e totalmente reformados, com modificações nos bondes, chaparia e pintura, bem como as estações foram reformadas. Marcos Guerra ainda destaca que o plano não dá lucro. “Nenhum dos ascensores dão lucro”, diz ele e emenda: “A renda é revertida no próprio ascensor”.
UsuáriosMuitos são os usuários diários do plano, alunos do colégio Duque de Caxias que moram na Cidade Baixa, como Eldon Cruz, 17, estudante, que afirma que o plano é muito útil para ele, poupa tempo. Assim como o estudante, outra pessoa que também utiliza este meio de transporte todos os dias é o vendedor Carlos Antonio, 44, mora na Liberdade e trabalha na Calçada. “Gosto de usar o plano inclinado por ser um meio de transporte diferente, ágil, barato e eficiente”, diz o vendedor apressado para entrar no bonde.
Muito animada, a professora Sônia Fontes, 37, chega para utilizar o plano. “O plano inclinado pra mim é ótimo, tenho uma cunhada que mora na cidade baixa e sempre que vou à casa dela eu uso o plano. Eu moro na Lapinha e se não fosse o plano teria que dá uma volta danada para vê a minha cunhada. E o preço é bom, é bem baratinho, declara ela com um semblante alegre.
O Plano ajuda muitas pessoas na economia de tempo, como Luana Emanuelle, 19, estudante de administração no Cefet, que estava apressada para usar o transporte. Ela tinha que descer para comprar materiais para um trabalho e ainda voltar em pouco tempo para estudar para uma prova. “Acho que o plano inclinado é uma ótima opção de transporte, liga em pouquíssimo tempo a Liberdade a Calçada. Agora mesmo estou morrendo de pressa e pelo plano poupo tempo”, declara Luana. Francilene Santos Almeida, 27, recepcionista, que ia utilizar o plano pela primeira vez para ir ao Comércio supõe: “Parece ser bom e rapidinho”. Ela estava especialmente animada com o preço: “O valor da taxa de R$0,05 é bom, não é alto dá pra todo mundo pagar”.
ViolênciaNo plano inclinado ocorreram nos últimos meses dois assassinatos. O mais recente chegou a gerar boatos que teria ocorrido dentro do plano. Inclusive os jornais impressos deram esse teor à notícia, causando medo entre as pessoas que moram próximo ao plano e aos freqüentadores. Carlos Alberto dos Santos, um dos supervisores do local, que trabalha mais pela noite das 18h às 00h, esclareceu que ambos os casos de violência não foram dentro do plano, que não influenciaram em nada no funcionamento do mesmo, mas ressalta: “Aqui rola tiro direto”.
A violência tem sido ameaça constante em todos os bairros da cidade e o bairro da Liberdade não está fora desse quadro alarmante. O plano, por sua vez, consegue ficar um pouco distante desta realidade, mas do lado de fora, nas ruas, o perigo ainda persiste.
A correria para descer e subir o plano já é uma imagem rotineira para quem passa pelo local. O plano inclinado é um transporte ágil e barato, que facilita a vida de muitas pessoas. Com certeza, um dia sem este equipamento faria falta a muitos que já estão acostumados a envolvê- lo em suas rotinas.
(outubro de 2007)
Serviços
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