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quarta-feira, 10 de junho de 2009

A Bahia tem que ser arquitetada pelos “nossos olhos”


Peça: Os Filhos da Filha da Chiquita Bacana
Roteiro: Marcos Dias e Aninha Franco
Direção: Rita Assemany e João Sanches
Sinopse: A peça é uma dramaturgia criativa e lírica que mistura fragmentos de textos e músicas de grandes autores e compositores da Bahia, que cantam a Bahia, sua diversidade, suas belezas, seu povo e suas dificuldades.
Comentário: Com uma hora de duração a peça consegue atrair ao público e leva-lo a reflexão, as pessoas sentem-se no que é dito e cantado, há uma identificação com os problemas e multiplicidade da Bahia.



A peça, Os Filhos da Filha da Chiquita Bacana, surgiu em 2007 e esteve de volta no Teatro XVIII (Pelourinho) agora em 2009, o roteiro é de Aninha Franco e Marcos Dias, sob direção de João Sanches. A peça é uma crítica a sociedade baiana, mostrando a linguagem, e comportamento dos soteropolitanos, a culinária, dificuldades e diversidade deste povo de forma humorada e satírica.
A performance de Rita Assemany, atriz da peça empolga o público, Rita que começou a fazer teatro ainda na adolescência no ano de 1980, é uma das atrizes mais respeitadas da Bahia. A atriz participou das montagens de “Toda Nudez Será Castigada”, O Balcão, Decamerão, Cabaré Brasil, e outros espetáculos.
Em 1992, estrelou o monólogo “Oficina Condensada”, que se tornou um grande sucesso de público e ficou mais de um ano em cartaz. No ano de 1997, foi dirigida pelo alemão Hans Ulrich Becker numa montagem de “Medeia”.
No cinema, Rita fez uma participação em “Central do Brasil”, de Walter Salles, é a única atriz presente nos três episódios do longa-metragem “Três Histórias da Bahia”. Pelo curta-metragem “Pixaim”, ela ganhou os prêmios de melhor atriz nos festivais de Curitiba e Brasília.
O roteiro aborda através de musicas todas as vertentes de se viver na Bahia, à queda do Carlismo é o fator inspirador para o recital, demonstra toda a vontade de mudança, os desejos de menos pobreza e desigualdade no Estado.
O espetáculo é feito baseado na paixão e no ódio pela Bahia, na dor e no prazer de ser baiano. A peça também conta com músicas seguindo o modelo dos saraus literários do XVIII associado à atriz que gosta de cantar, dando um verdadeiro show. A escolha do arranjo musical foi feita pelo diretor musical, Jarbas Bittencourt, quem criou os arranjos para dois músicos (imposição da produção) e para as possibilidades vocais da atriz.
No palco há três personagens, a atriz principal, Rita Assemany, quem canta e declama versos, e os músicos Leonardo Bittencourt e Marcos Marinho que tocam e também cantam com a atriz algumas musicas. O figurino de Rita remonta as baianas de acarajé, o vestido rodado e branco faz o público se sentir na Bahia.
As roupas dos músicos se assemelham a dança de salão, estando em harmonia com a vestimenta de Rita e com o cenário que possui folhas de papel no chão dando a sensação de acumulo de problemas e poucas resoluções na Bahia, ou para outros os textos que Rita lê e joga no chão dá a sensação de que são palavras voláteis, que se perdem, a cenografia atende a uma proposta.
A luminosidade direcionada nos personagens, foca toda atenção neles. E os momentos de escuro dão uma pausa na peça, servem de breves pontuações.
Em todas as declarações que a atriz faz em poemas ou letras de músicas percebe-se a critica a Bahia e também o chamamento para a mudança, para se corrigir os erros que a terra do turismo e acarajé possui, sendo estes a violência e a desigualdade muito ressaltadas na peça.
O humor da peça está na representação dos costumes do baiano e também a forma que esta gente é vista pelo país. A atriz consegue arrancar risos da platéia ao encenar o hábito do baiano de “beber para esquecer os problemas” e cita também a calúnia da preguiça pela qual o povo baiano é lembrado. São muitas as ironias com a realidade, muito humor e reflexão.
A educação é tratada como ponto chave para reverter à situação atual, a peça prega que a Bahia tem que ser arquitetada pelos “nossos olhos”, menos violência e mais liberdade.
No espetáculo os baianos sentem-se em casa, percebem que o jeito de ser baiano é o mostrado pelos roteiristas, no final da peça os músicos tocam o hino dos times baianos Bahia e do Vitória. Turistas que assistiram à peça têm dimensão que a Bahia não é só à festa do carnaval, há muitos problemas para se resolver.
O roteiro e os personagens agradaram as noites de quem esteve no Pelourinho neste mês de março, apreciando “Os Filhos da Filha da Chiquita Bacana”. O humor, a reflexão e o ambiente acolhedor fazem o público pagar para vê de novo.


Informações
As Filhas da Filha da Chiquita Bacana
Local: Teatro XVIII
Horários: sábados e domingos – 20h.
Preço: R$ 4,00
Endereço: Rua Frei Vicente, 18, Pelourinho.
Em cartaz até 20 de março.
Tel: (71) 3322-0018.

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